A jornada do Uber como empresa de capital aberto teve um início decepcionante. Nesta sexta-feira (10), no primeiro dia de comercialização de ações, os papéis da empresa de mobilidade compartilhada fecharam o dia valendo US$ 41,57, queda de 7,62% sobre o valor inicial de US$ 45. O desafio da empresa é provar que o negócio pode gerar lucro, algo ainda inédito em sua história.
Somente nos primeiros três meses de 2019, o Uber perdeu US$ 1,1 bilhão. Em entrevista ao canal CNBC, Dara Khorsowshahi, presidente da companhia, disse que 2019 deve ter sido o “pico de perdas” do Uber.
Além das dificuldades operacionais, o cenário econômico não ajudou a estreia. O impasse na guerra comercial entre EUA e China fez a Bolsa de Nova York ter a pior semana de 2019. Além disso, a Lyft, concorrente do Uber nos EUA que iniciou venda de ações no fim de março, vem tendo desempenho decepcionante: os papéis já desvalorizaram cerca de 30%.
Khorsowshahi tenta manter o otimismo, embora não dê prazo para retornos. Ele disse que é possível recuperar o desempenho do primeiro dia na Bolsa e vem pregando que a empresa pode ser comparada à Amazon: é uma plataforma tecnológica com diferentes serviços.
Michael Ramsey, analista da consultoria Gartner, disse que a comparação é limitada. Segundo ele, a empresa fundada por Jeff Bezos ganhava em escala à medida em que crescia – o que não pode ser aplicado ao Uber. “Quando o Uber cresce, seus custos aumentam na mesma proporção”, diz.
Ramsey também aponta para possíveis disputas trabalhistas que forcem a empresa a pagar mais seus motoristas. Durante a semana, a categoria protestou e exigiu da empresa melhores condições de trabalho. “É possível que isso leve a um aumento de tarifas. Atualmente, os preços já são artificialmente baixos porque a companhia está num movimento de expansão.” O aumento de tarifas pode colocar o Uber em um outro dilema: preços mais altos podem fazer os concorrentes, como Lyft e a chinesa Didi, ganhar espaço.
“O Uber não está mais em uma discussão de inovação. Ele convive agora com questões de operação e problemas reais”, diz Luiz Alberto Albertin, professor de administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). “O mercado assimilou a inovação do Uber, mas quer ver algumas das novas ideias funcionando de verdade.”