Um dos pontos altos do calendário de eventos religiosos da Bahia, a Festa da Boa Morte, que começou terça-feira (13) e prossegue até sábado (17), na cidade de Cachoeira (Recôncavo Baiano, a 110 km de Salvador), chega ao auge nesta quinta (15). Alvorada com fogos, missa, procissão, almoço, valsa e samba de roda marcam a programação do dia, quando se comemora a Assunção de Nossa Senhora.
As ruas, becos e vielas da cidade transformam-se em uma verdadeira passarela com o vai e vem de pessoas de várias partes do mundo, lotando bares, restaurantes, igrejas e museus. A previsão da Secretaria de Cultura e Turismo de Cachoeira é de que, ao longo do período de comemorações, cerca de 6 mil visitantes circulem pelo município.
A festa tem patrocínio da Secretaria do Turismo do Estado (Setur), que está no local com um balcão de atendimentos para prestar informações aos visitantes. Na mesma área, uma baiana tipicamente vestida distribui cocadas e fitinhas do Nosso Senhor do Bonfim. Representando a Setur, o subsecretário Benedito Braga pontuou que “esta manifestação é uma das mais tradicionais do turismo religioso da Bahia, que se fortalece cada vez mais”.
Tradição – A Festa da Boa Morte, Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2010, atrai grande número de estrangeiros, principalmente norte-americanos – a maioria, afrodescendente – e europeus. Jornalistas e pesquisadores vêm de outros países, atraídos pela manifestação da cultura afro-baiana de alta relevância para o turismo étnico.
A francesa Irene Sigle mora no Rio de Janeiro e veio à festa pela segunda vez. “Cheguei na terça-feira e gostei muito de ver a procissão com estas mulheres lindas da Irmandade”, garantiu. Ela chegou a Cachoeira com a também francesa Clara Le Bris, que visita o Brasil pela primeira vez: “Vim atraída pela cultura, samba de roda, candomblé, que queria muito conhecer”, disse encantada. A Irmandade da Boa Morte é uma tradição de mais de 230 anos, passada de mãe para filha por 23 mulheres, com origens na luta contra a escravidão. Da Igreja Católica foi herdado o culto a Nossa Senhora.
Professor de estudos afro-americanos da Universidade de Temple, na Philadelphia, Ken Dossar, é um veterano na Boa Morte. Há décadas ele traz a Cachoeira grupos de norte-mericanos para conhecer a tradição. “Temos irmandades de negros nos Estados Unidos também e é bom mostrar estas conexões que há entre os negros em vários países”, destacou.
Rede hoteleira – Hotéis e pousadas de Cachoeira e da vizinha São Félix estão cheios por causa da festa. Com 19 acomodações, o Cachoeira Apart Hotel registra 100% de ocupação, segundo a recepcionista Vilma Silva. Na pousada e restaurante Pai Thomaz todos os 13 quartos estão ocupados, informa Edilene Lima, da recepção.
Na Pousada Convento do Carmo, uma das principais da cidade, com 26 acomodações, a lotação também está completa “e ainda há muita gente ligando à procura de vagas”, diz João Pedro, da recepção. Na Pousada Treze de Março, que tem 16 acomodações, a expectativa é de atingir 100% nesta quinta-feira.
A programação de quinta-feira, auge da festa, começou com alvorada às 6h. Às 10h foi celebrada a missa festiva pela Assunção de Nossa Senhora, seguida da procissão de Nossa Senhora da Glória, acompanhada de filarmônicas, e de valsa e samba de roda no Largo da D’Ajuda. Os festejos seguem na sexta-feira (16), com o tradicional cozido oferecido à comunidade e o samba de roda no Largo D’ajuda. No sábado, 17, para encerrar a festa, mais um dia de samba e banquete, desta vez com caruru.
Foto: Tatiana Azeviche/Ascom-Setur