Sem manutenção, o casarão da Ladeira Pau da Bandeira desabou parcialmente sobre a Ladeira da Montanha, no Centro de Salvador, no final da tarde da última terça-feira (18), sem deixar vítimas. Outros casarões da capital baiana também sofrem com os impactos do tempo. Ao todo, a cidade possui 1.295 imóveis do tipo vistoriados e cadastrados pela Defesa Civil (Codesal) do município, dos quais 131 apresentam risco muito alto de desabamento ou incêndio e 237 possuem risco alto.
Grande parte dos casarões cadastrados está ocupada – apenas 24% dos imóveis não têm ocupação. Abandonado, o edifício de meados do século 19 que desabou no centro histórico começará a ser demolido pelo seu proprietário nesta quinta (20). A edificação faz parte do Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e Urbanístico do Centro Histórico da cidade de Salvador tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1984.
O imóvel possuía alto risco de desabamento, o que levou o Iphan, responsável por fiscalizar todos os bens tombados, a autorizar a demolição do edifício por parte do proprietário em 16 de julho deste ano visando evitar o comprometimento de outras construções da área e riscos para a vida humana.
Em nota, o instituto diz acompanhar a situação da construção histórica desde o ano passado em conjunto com a Codesal. “Diversas vistorias foram realizadas no local. A mais recente foi realizada pela Defesa Civil e por engenheiros estruturalistas especializados, no mês de julho, estes últimos contratados pelos responsáveis pelo imóvel e cujo laudo produzido atestou a falência estrutural do edifício”, explicou o Iphan.
De acordo com a Defesa Civil, o desabamento parcial é resultado da falta de manutenção predial. O casarão estava escorado, mas a estrutura de sustentação era antiga e já não cumpria sua função, afirmou o diretor-geral da Codesal, Sosthenes Macêdo. “A edificação estava em um nível de risco elevado e solicitamos a demolição. Só ficamos sabendo da liberação para a demolição na semana passada. O dono do imóvel tinha afirmado que ia começar o processo no próximo sábado, mas o desabamento ocorreu antes”, disse.
Projeto Casarões – Em Salvador, as ações voltadas para promover a conservação dos casarões ocorrem por meio do Projeto Casarões, segundo a subcoordenadora de Áreas de Riscos da Codesal, a engenheira Rita Jane Moraes. De acordo com ela, o projeto tem como objetivo levantar a realidade dessas construções e contribuir para sua preservação ou eliminação do risco com a realização das intervenções necessárias.
“Quando identificamos os proprietários, procedemos a notificação para dar ciência do risco e responsabilizá-los para executar a manutenção predial ao tempo que encaminhamos a situação para os órgãos tombadores (Iphan ou Ipac) para que realizem intervenções ou responsabilizem os proprietários”, explica Rita Moraes.
Ainda de acordo com a subcoordenadora, a Defesa Civil articula com outros órgãos municipais para realizar a demolição total ou parcial do imóvel em caso de risco iminente e na impossibilidade do proprietário fazer a manutenção ou não ser identificado. Segundo a Codesal, a situação dos casarões cadastrados é atualizada anualmente.
Incêndio – Segundo o Iphan, o imóvel já sofreu um incêndio e foi escorado há cerca de dez anos pela prefeitura de Salvador. O instituto informou que o casarão da Ladeira Pau da Bandeira já apresentava patologias severas quando foi escorado, as quais se agravaram com o tempo até a falência estrutural dos elementos e o desmoronamento parcial do edifício. Neste caso, o escoramento não foi suficiente para manter a edificação estável.
Em nota, o instituto aponta que escoramento de edificações é uma solução válida para garantir a preservação da edificação e para garantir a segurança da população, mas, devido a sua baixa durabilidade, é uma solução provisória até que seja realizada a recuperação ou restauração do imóvel.