A taxa de ocupação dos leitos de UTI para a covid-19 chegou a 62% em Salvador. Diante do aumento dos números, o secretário de saúde de Salvador, Leo Prates, fez um alerta à população nas redes sociais. Além de informar que o prefeito ACM Neto já determinou a reabertura de 30 leitos, Leo chamou a atenção para a gravidade da situação. “As pessoas precisam entender que a pandemia não acabou”, afirmou.
A informação dada por Leo Prates é compartilhada um dia depois do hospital de Campanha do Wet’n Wild ter sido desativado. Três pacientes ainda estavam internados no local, nesta sexta-feira (20). Dois dos enfermos foram transferidos para o Hospital Sagrada Família e um foi encaminhado para o Memorial.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a decisão de fechar o espaço, aberto em maio para tratamento exclusivo de pacientes infectados com a covid-19, foi a queda na taxa de ocupação de leitos em Salvador. A tenta Wet’n Wild 1 já tinha sido desativada em 15 de outubro.
Apesar de não ter mais pacientes no local, a SMS informou que a estrutura não será desmontada de imediato, para que o hospital volte a funcionar caso haja necessidade. Hoje, o espaço conta com cerca de 20 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 80 de enfermaria.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o hospital de campanha recebeu 1.440 pacientes com coronavírus. Destes, 998 doentes ficaram internados na tenda Wet’n Wild 1, enquanto 442 enfermos foram hospitaliazados na tenda Paralela 2.
Dos intrenados na tenda Wet’n Wild 1, se curaram 657 pacientes e 219 morreram. Na Paralela 2, foram 320 curados e 55 óbitos.
No Brasil – O aumento dos números em Salvador segue uma tendência no Brasil. A 22ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro começou, nesta sexta (20), sob o impacto de um impressionante aumento de casos de covid-19 entre jogadores, treinadores, membros de comissão técnica e funcionários dos clubes. Até o início da noite desta sexta-feira, eram mais de 50 casos em 10 times. E 4 treinadores estavam contaminados e fora de ação. Somente o Palmeiras, que lidera o “ranking” com 18 casos, afastou mais 5 jogadores na sexta.
A CBF entende que a contaminação não ocorre em campo e não cogita mudar o protocolo neste momento. Para os especialistas ouvidos pelo Estadão, o problema está no descumprimento dos protocolos sanitários por parte dos jogadores. Eles acreditam que os atletas, assim como parte da sociedade, relaxaram em relação ao cumprimento das medidas de segurança.
É o que diz o infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp. “Os eventos ‘superdisseminadores’, que englobam batizados, festas de aniversários e qualquer outro tipo de ambiente que tenha mais de seis pessoas e as medidas de proteção não são respeitadas, estão fazendo com que a curva volte a crescer. As pessoas estão banalizando a questão da flexibilização, inclusive os jogadores, que estão sendo flagrados nesses eventos”, avalia.
Essa situação, somada às condições de trabalho no futebol, facilita a disseminação do vírus. Um atleta infectado tem possibilidade de contaminar vários outros por causa da proximidade dos treinos.
“Houve um relaxamento das medidas de proteção fora dos clubes. Os jogadores estão se expondo a ambientes onde não é possível manter a proteção. Festas, restaurantes e grupos de amigos. O sujeito que se infecta vai acabar contaminando seus companheiros, já que, pela natureza do esporte, não é possível aplicar distanciamento e uso de máscaras”, explica o infectologista Alexandre Cunha.
Atrás do Palmeiras, que registra 18 casos – Gabriel Menino também se contaminou, mas já está recuperado -, estão Atlético-MG, com 10 contaminados, e Vasco, com 7. O Santos tinha 9 doentes, mas nesta sexta-feira 6 deles foram liberados por estarem recuperados – Alex, Alison, Sandry, Pituca, Jobson e Jean Mota.
Segundo Naime, se os jogadores seguissem à risca os protocolos de segurança elaborados pelos clubes, não haveria esse tipo de situação. “Olha o nome: ‘concentração’. É óbvio que haverá aglomeração. Se um ou dois não fazem a lição de casa, acaba com a proteção de todos. O jogador, nesse caso, prejudica o próprio clube”, explica.
Cunha também acredita que esses casos não parecem ser consequência de falhas nos protocolos dos clubes. Para o infectologista, é mais provável que um atleta tenha se contaminado fora das atividades e levado o vírus para dentro dos CTs. “Os jogadores são jovens e nessa faixa etária a covid-19 é uma doença benigna. Mais da metade dos infectados podem ser assintomáticos, o que torna mais difícil uma contenção a partir da avaliação clínica”, afirma.