O ano de 2021 entrará para a história como aquele em que a Lavagem do Bonfim, uma das festas religiosas mais importantes do país, teve a programação totalmente modificada, após mais de dois séculos de realização. A mudança foi necessária, diante do cenário de pandemia e do recente aumento da ocupação dos leitos exclusivos para a Covid-19 em Salvador.
A máxima da festa este ano, conforme salientou o prefeito Bruno Reis, é: “Quem tem fé fica em casa e acompanha tudo pela internet”. E assim ocorreu, sem aglomerações. Nas ruas do Centro Histórico, por onde a imagem passou, por volta das 9h, algumas pessoas vestidas de branco assistiram o cortejo solitário da imagem, que estava em um veículo aberto do Corpo de Bombeiros, com apoio Transalvador.
A imagem foi saudada por uma salva de palmas. Algumas baianas, figuras tradicionais da lavagem das escadarias da Basílica do Senhor do Bonfim (que este ano não ocorrerá), se emocionaram e pediram proteção. Uma delas foi Silvia Pitancourt, de 59 anos, que se emocionou e pediu proteção e saúde para o ano de 2021. “Essa passagem nos enche da certeza de um ano melhor. É uma forma de validarmos a nossa fé, pois é só ela que nos sustenta”, disse.
Toda a programação da manifestação religiosa está sendo transmitida ao vivo pela Web TV do Bonfim (canal do Youtube), por onde as celebrações, mensagens e atos religiosos podem ser acompanhados. Seguindo a programação religiosa, a imagem do Senhor do Bonfim saiu da Igreja de Nossa Senhora da Vitória, às 8h, em um carro aberto, que seguiu para a Graça, depois retornou à Vitória, passou pela Avenida Sete de Setembro e chegou ao Terreiro de Jesus.
Após passar pelo Terreiro de Jesus, um ponto diferente do tradicional, a imagem seguiu sem aglomerações pela Rua Carlos Gomes em direção à Avenida Lafayete Coutinho (Contorno) até a Basílica da Conceição da Praia, tradicional ponto de partida da lavagem todos os anos. De lá, no Comércio, o carro segue com a imagem pelo conhecido trajeto de aproximadamente oito quilômetros até a Colina Sagrada.
Tradição – Segundo historiadores, a festa do Bonfim teve início no século XVIII, com a vinda para a Bahia do capitão de mar e guerra,Theodósio de Faria. O capitão tinha grande devoção ao Senhor do Bonfim e trouxe de Lisboa uma imagem semelhante à que se venera em Portugal, na cidade de Setúbal.
A imagem esculpida em pinho de Riga, medindo 1,06 metros de altura, teria vindo com ele como forma de agradecimento por haver sobrevivido a uma tempestade em alto mar, tendo ele prometido também construir uma igreja.
A grandiosidade da festa do Bonfim deve-se, principalmente, ao sincretismo religioso e às diversas manifestações culturais participantes. No sincretismo religioso, o dia é de celebrar Oxalá. Por isso, diversas pessoas se vestem de branco e as baianas realizam a tradicional lavagem do adro da Basílica do Senhor do Bonfim.
Grupos diversos, como os de samba e de capoeira participam do cortejo que segue do Comércio em direção à colina sagrada. Em dias normais de celebração, também é possível encontrar pessoas fantasiadas, carros de som e a venda de comidas típicas nas proximidades da igreja.
O prato mais comum é a feijoada. Ao final da celebração religiosa, muita gente se diverte com o lado profano da data. Contudo, neste ano, todo esse calor humano precisou ficar guardado nas lembranças para voltar a ser expresso em momento oportuno, quando a Covid-19 estiver controlada, com a fé em Nosso Senhor do Bonfim.
Foto: Jefferson Peixoto/Secom-PMS