Para combater o avanço do coronavírus na Bahia, o estado vai passar por um lockdown parcial no final de semana – começando de maneira escalonada a partir das 17h desta sexta-feira (26) e se encerrando às 5h da segunda (1º). Dentre os setores afetados, está a atividade varejista. Segundo estimativa da Fecomércio-BA, deve ser registrado, no sábado (27) e no domingo (28), um prejuízo de R$ 70 milhões por dia de varejo baiano parado.
O presidente da Fecomércio-BA, Carlos Andrade, alerta que o fechamento das lojas aumenta o risco de demissões. Entretanto, ele reconhece que a medida é necessária no cenário atual da pandemia. “Se uma loja leva 2 dias fechada, o empresário vai ter que fazer a conta de manter um funcionário se não tiver serviço para ele. Apesar disto, fazemos o possível para não demitir um trabalhador treinado e gerar mais emprego e renda”, explica Andrade.
As novas medidas de isolamento social só foram anunciadas após reunião com o setor empresarial. “Conversei com a classe empresarial, como representantes da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio) e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) para explicar a gravidade da pandemia na cidade e eles entenderam a necessidade de avançarmos nas medidas de isolamento social”, afirma o prefeito de Salvador, Bruno Reis.
Mesmo com o diálogo, o presidente da Fecomércio diz não ter negociado compensações para as perdas geradas pelas restrições de funcionamento do comércio. “Em uma segunda reunião, deve haver um diálogo para compensar as perdas dos R$ 70 milhões com compensação em impostos ou dias trabalhados um feriado”, espera Andrade.
Para o presidente da entidade, a esperança é que não seja preciso determinar novas medidas mais duras de isolamento social nos próximos meses. “Medidas mais duras que essa seriam uma tragédia para o comércio. A população se sente mais segura no comércio por ver as medidas de segurança, como o uso obrigatório de máscara. As lojas são mais seguras que as ruas e as comunidades onde as pessoas aglomeram. O comércio não é responsável por esse cenário”, analisa Andrade.
Durante as conversas com os governantes da Bahia, os representantes da classe empresarial solicitaram uma maior dedicação do Governo do Estado e das prefeituras na abertura de leitos para o coronavírus e na melhoria da infraestrutura dos hospitais. “Pedimos essas ações em contrapartida das novas medidas de isolamento do final de semana. Queremos evitar o colapso do sistema de saúde e entendemos que é necessário priorizar a vida, sem esquecer dos empregos”, pontua o representante da entidade.
Andrade também elogia o modelo escalonado de fechamento do comércio não essencial na sexta, com o encerramento das atividades do comércio de rua às 17h, dos bares e restaurantes às 18h e dos Shoppings às 19h. “Existe uma grande preocupação sobre o transporte. Entendemos que o fluxo de aglomeração gerado em horário de pico gera uma grande contaminação. Esse escalonamento surgiu no nosso diálogo”, garante.
Comércio de rua – Diferente de Andrade, o presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio da Bahia (Sindilojas), Paulo Motta, acredita que o fechamento escalonado dos estabelecimentos penaliza o comércio de rua, que é o primeiro a ter que encerrar as atividades na sexta.
“Essa medida transfere a responsabilidade da pandemia para quem trabalha e gera emprego. O lockdown mata o final de semana da atividade produtiva. O setor fica preocupado porque não pode programar, não tem como comprar mercadoria porque não sabemos se vai ter consumidor já que não tem como saber quando as lojas podem funcionar de maneira regular”, critica Motta.
O Presidente da Federação Baiana de Turismo e Hospitalidade do Estado da Bahia (Fetur), Silvio Pessoa, segue a mesma linha: “As transmissões acontecem nas festas e no transporte público, não em ambientes com protocolos de segurança sendo cumpridos. Quem não faliu antes vai falir agora se ficar muito tempo parado, pois não temos nem dinheiro para pagar os funcionários. Já está havendo casos de demissões. O Governo Federal errou em não providenciar a vacina, o Estadual não providenciou leitos e o municipal precisa nos dar incentivos. Ficamos fechados, mas os impostos continuaram chegando”.
Pessoa acredita que a medida vai prejudicar o turismo no estado. “Ainda não tivemos cancelamento de reservas, mas o departamento que trata disso nos hotéis ficou parado essa semana. O turismo interage com outros setores da economia, não só hotéis, bares e restaurantes. São cerca de 50 setores que serão prejudicados”, diz.
Mercados – As novas restrições proíbem a venda de bebida alcoólica, portanto, os supermercados vão isolar esses itens nas prateleiras e colocar cartazes informativos para alertar os clientes sobre a impossibilidade de comprar o produto, como informa o presidente da Associação Baiana de Supermercados (Abase), José Humberto Souza.
“Não temos como retirar as bebidas das prateleiras para guardar no depósito. Por isso, elas ficarão isoladas. Os operadores de caixa também serão instruídos a não vender o produto mesmo que o cliente o leve para o check out”, afirma Souza.
As vendas devem cair com as medidas válidas para o final de semana, mas o presidente da Abase aponta ser fundamental cumprir o decreto. “Encerramos as atividades 1h antes do limite de funcionamento para que os funcionários possam ir para casa e para que os clientes deixem o local no horário certo”, explica o presidente da Abase.
Os Shoppings não devem se adaptar. O coordenador regional para o estado da Bahia da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Edson Piaggio, garante que estes estabelecimentos já seguem rigorosamente todas as medidas sanitárias impostas pelos governos. Do ponto de vista econômico, os centros de compra devem sofrer perdas, mas o consenso é que é preciso preservar vidas.
“O shopping oferece um ambiente seguro, mas o fechamento é uma determinação das autoridades, então, vamos seguir”, pontua Piaggio.