Samarra e borla para representar os méritos do outorgado. O diploma simboliza dignidade. Uma placa para representar a união com a Universidade. Essas foram as honrarias recebidas pelo novo homenageado com o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Rosivaldo Ferreira da Silva, o cacique Babau Tupinambá.
O evento, transmitido online pelo canal da TV Uneb no YouTube, aconteceu nessa quarta-feira (30), com solenidade presidida pelo reitor José Bites de Carvalho e vice-reitor Marcelo Ávila, dois anos após a aprovação da honraria pelos membros do Conselho Universitário (Consu).
“Cacique Babau é uma personalidade conhecida internacionalmente como referência de luta pelos povos indígenas do Brasil. O título concedido a ele é uma forma de homenagem ao povo Tupinambá, aos povos indígenas e aos nossos antepassados”, destacou Vitor Amaral, proponente do título, logo no início da cerimônia.
Mas a escolha de Babau não foi simples nem em vão. A maior honraria da universidade é conferida a personalidades que tenham prestado serviços relevantes ao ensino, à pesquisa, às letras ou às artes, fora da universidade. Nomes como Thabo Mbeki, então presidente da África do Sul; Abdias do Nascimento, dramaturgo e ativista político; e a líder religiosa Mãe Stella de Oxóssi foram celebrados pela Uneb. Agora foi a vez de Babau.
Biografia – Líder na Terra Indígena Tupinambá, nos municípios de Ilhéus, Una e Buerarema, no sul do estado – onde vivem mais de 4,6 mil indígenas -, ele resiste aos conflitos por terra há anos. Por conta dos confrontos em defesa da natureza, o cacique teve sua vida ameaçada em 2019, quando foi informado sobre um plano de assassinato contra ele e mais quatro familiares, além de ter sido preso diversas vezes.
A perseguição ao cacique ganhou atenção de entidades de Direitos Humanos mundiais e cobranças ao governo brasileiro para medidas de proteção ao líder indígena. Em 2018, Babau recebeu da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) a Comenda Dois de Julho, em reconhecimento pela sua luta na defesa dos direitos dos povos indígenas.
“Desde a pandemia, a comunidade ficou reclusa. Quando eu vi autoridades e o povo da ciência dizendo o que tinha que fazer, eu conversei com todos os parentes e suspendemos todas as reuniões. Decidimos produzir só pra não termos fome, pois o tempo agora é o tempo da morte. Mas hoje, excepcionalmente, quebramos o isolamento para recebermos juntos esse título, pois ele não é meu, ele é do nosso povo, da nossa luta e do Brasil. Onde chamam o tupinambá, nós estamos”, afirmou ele.
O cacique ainda aproveitou a oportunidade para falar sobre o Projeto de Lei 490/2007, que prevê mudanças no reconhecimento da demarcação das terras e do acesso a povos isolados e que está sendo alvo de protestos indígenas por todo o país, incluindo a Bahia.
“É uma tortura o adiamento dessa PL para os povos indígenas. Precisamos saber mais diante de tudo isso. Recebi esse título e isso mostra que estão lembrando de nós. A Academia está olhando para nós e isso dá força a outros povos e mostra que vale a pena defender a natureza, a vida. Nós não desistiremos jamais do nosso território nessa batalha grandiosa”, afirmou.
A indicação da honraria é feita pelo reitor, diretor de departamento e conselheiros do Consu da instituição e aprovada pelo conselho universitário, em sessão especial e por voto secreto, sendo exigidos 2/3 de votos favoráveis.
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