Um transbordamento de antíteses. Assim o poeta André Tourinho descreve “Doce Caos”, a primeira obra autoral que lança nesta sexta-feira (3), em Salvador. Letras que contrapõem o citadino ao bucólico, o profundo ao trivial, a esperança ao pessimismo, o horrendo ao belo. Além disso, nas 128 páginas do livro de estreia, expressa a fascinação pela experiência de existir que leva, como diz, para além da transformação, à dádiva da redescoberta. O lançamento ocorrerá na Livraria do Shopping Paseo, das 18h às 21h.
A ideia da obra nasceu da vivência que o jovem poeta teve em São Paulo, mas foi maturada em Salvador, para onde retornou pouco antes do advento da pandemia. “A relação complexa de amar e odiar um lugar com mesma intensidade me intrigava: todos criticavam a capital paulista, porém lá prosseguiam como se sofressem de um magnetismo maléfico tão quão gratificante. Bem, voltei a Salvador pouco antes de eclodir a pandemia, e assim pude racionalizar melhor os contrastes de ter sido um baiano por lá”, disse André Tourinho.
Sobre o poeta, Tourinho ressalta que este, acima do prosador, trabalha com a materialidade da palavra em seu sentido também plástico; como diz Manuel Bandeira no inesquecível poema “Poética”: “Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo”. “Não é de meu desejo, porém, dar a entender que os ‘versejadores’ são basicamente caçadores de termos desconexos e afetados, somente que cada palavra é mais sentida em seu sumo, sensação e efeito”, explica. Desta labuta com as palavras, ele diz que pode consumir maior tempo escrever e reescrever um soneto que redigir 20 páginas de um conto.
Em “Doce Caos”, Tourinho passeia por três idiomas: português, espanhol e inglês, primando, porém, pela primeira. “Abracei a brasilidade e a baianidade dentro de mim, descobrindo que cada língua pode me gerar distintas possibilidades: o inglês é uma língua mais sintética por meio da qual, como diria Clarice Lispector, pode-se dizer qualquer coisa, além das rimas se pronunciarem mais perceptíveis”, comentou. Sobre o espanhol, destaca que “detém uma bruteza e um vigor nas vogais maiores; o português, por sua vez, dos idiomas que tenho estudado, é o mais flexível e repleto de possíveis disposições, como um quebra-cabeça que permite a formação de imagens diversas a depender de como o monte”.
“O nosso idioma é, por natureza, poético; mais que Flor do Lácio, a língua portuguesa foi esculpida por trovadores: suave e sonora. Diante disso, optei por deixar primar esta última”, pontua. Em “Doce Caos” há 58 poemas em português, seis em inglês e um em espanhol, como mero aperitivo. Um dos objetivos de André Tourinho é tornar a poesia popular. “De todos os modos, tomo como missão mostrar ao máximo de pessoas que a poesia é para todos; se não é preciso ser músico para ouvir música, por que versos hão de ser intimidadores?”, questiona.
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