24 de novembro de 2024
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Governador envia ofício a pesquisador que criticou situação da Biblioteca Central dos Barris

Governador envia ofício a pesquisador que criticou situação da Biblioteca Central dos Barris

O jornalista e pesquisador Claudio Leal, que denunciou há uma semana a situação da Biblioteca Central do Estado por meio de uma carta aberta – confira no final da matéria – ao governador Rui Costa (PT), recebeu um ofício do governo do Estado nesta quarta-feira (28) falando que providências serão tomadas para solucionar os problemas.

Na biblioteca, Leal encontrou um espaço com cortes na limpeza e na segurança, além da ausência de jornais diários no setor de periódicos que data de 2016.

“A secretária particular de Rui Costa me enviou ofício esta manhã dizendo que o governador cobrou providências da secretaria responsável pela Biblioteca Central dos Barris – a Secretaria de Cultura – com protocolo e telefone para acompanhar o pleito”, publicou Claudio, no Twitter.

O jornal Correio informa que, no documento, que data da última segunda-feira (26), mas que só chegou nesta quarta ao jornalista, consta que “o referido pleito foi encaminhado à Secretaria competente para providências”. Ele é assinado por Elisa Cristina Guimarães Pellegrini, secretária particular do governador.

Procurada desde segunda-feira (26), a Fundação Pedro Calmon (FPC), responsável pela Biblioteca, continuou sem comentar o caso. A Secretaria de Cultura do Estado (Secult) tambem não se posicionou.

No final da tarde desta quarta-feira (28), a Secretaria de Comuicação do Estado (Secom) informou, por meio de nota, que o governador Rui Costa “determinou imediata avaliação técnica de estrutura física de todas as bibliotecas públicas estaduais”, além da criação de um grupo de trabalho, envolvendo as secretarias da Cultura (secult) e da Administração (Saeb) para atender à determinação.

Ainda de acordo com a nota, “uma equipe de engenheiros da Saeb já iniciou atividade em campo para apresentar relatório com máxima agilidade ao governador”. O objetivo de Rui, segundo informou a Secom, “é criar um plano de requalificação e modernização das oito bibliotecas públicas administradas pelo Governo do Estado”.

No site da Fundação Pedro Calmon, constam que são administrados pela Secult o Arquivo Público do Estado da Bahia (Apeb) e a Biblioteca Anísio Teixeira (Pelouriunho), Biblioteca de Extensão (Barris), Biblioteca Infantil Monteiro Lobato (Nazaré), Biblioteca Juracy Magalhães Neto (no Rio Vermelho e em Itaparica), a própria Biblioteca Central do Estado da Bahia (Barris), Biblioteca Pública Thales de Azevedo (Costa Azul) e Biblioteca Virtual Consuelo Pondé.

Também são administrados pela Fundação o Centro de Memória da Bahia, o Memorial dos Governadores Republicanos e a Casa Afrânio Peixoto (Lençóis).

Confira na íntegra a carta de Cláudio Leal ao governador Rui Costa:

“Caro governador Rui Costa,

Trago-lhe notícias da decadência da Biblioteca Pública do Estado da Bahia, criada em 1811 e instalada em 1970 nos Barris, centro de Salvador, sob a responsabilidade do governo do Estado. Sem querer contrariar a irrelevância da cultura em seu governo, informo-lhe que a velha biblioteca continua a não receber nenhuma assinatura de jornais locais e nacionais. A seção de consulta a periódicos, antes repleta de frequentadores, sofre um processo de desertificação. Visitantes retornam para a rua ao verificar que não há jornais do dia. São quase dois anos de incúria, de estúpida austeridade e de grosseria contra leitores e pesquisadores. Um ato de desprezo à memória histórica da Bahia. De acordo com os funcionários, desde junho de 2016 a remessa de publicações foi cortada em razão de estranhas burocracias, inéditas em quase dois séculos de serviços públicos, agora humilhados pelo desinteresse oficial de solucionar esse impasse.

Conforme apurei, usuários e funcionários chegam a doar seus jornais para corrigir parte da lacuna do acervo da biblioteca. Esta história é comovente, mas deveria lhe indignar tanto quanto a mim, porque o dinheiro para a manutenção é mínimo. Uma assinatura do jornal “A Tarde” custa R$ 65 por mês (felizmente, a maior parte do acervo está digitalizada). O “Correio” custa uma pechincha: pode sair R$39/mês. Como se vê, nada que ofenda o erário.

Na Biblioteca dos Barris, realizei pesquisas em 2016 e 2017 e posso descrever o zelo de funcionários jogados em ambientes sem ar condicionado, outro atentado contra o acervo. O calor reduzia a capacidade de resistência, o tempo de pesquisa se reduzia. E cabe uma pequena atualização: a sala de consultas a periódicos se encontra outra vez sem ar condicionado. Quebrou. Em 22 de fevereiro de 2018, crescia a esperança de um conserto.

Os banheiros da biblioteca são sujos, fedem a urina e dezenas de vasos seguem interditados. Os mictórios são podres. Não há motivo para vanglória: isto não é um feito de sua gestão. O desrespeito à higiene dos usuários atravessa décadas e não exclui governantes de esquerda ou direita. O PT, defensor das minorias, deveria proteger a saúde de raros leitores. Há pouco tempo, houve cortes indecentes na limpeza e na segurança, mesquinharia revertida dentro da lentidão habitual de tudo que se refere à preservação histórica no Brasil. Em 2016, a biblioteca fechou por 20 dias. Os vigilantes não eram pagos, como denunciou a imprensa.

Antes do fim, vamos rapidamente ao subsolo. A Sala Walter da Silveira, antes uma referência da cinefilia baiana, dispõe de um excelente programador, mas recebe recursos pífios para realizar mostras e retrospectivas de filmes. Seja mais generoso com a sala que leva o nome de um dos maiores críticos do Brasil.

Apesar do meu desencanto, espero que o senhor corrija o descaso de seu governo com a Biblioteca Pública. Esta carta, naturalmente, será encaminhada a outros destinatários dedicados à memória histórica.

Cordialmente,

Claudio Leal, jornalista.”




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