Era uma bela tarde de domingo, o brilho do sol esmaecia emoldurado pelo azul celeste do firmamento. Famílias conversavam ao redor da mesa no quintal.
Muita descontração e assuntos variados na conversa, quando a avó emendou a história do susto que levou. Acontecera quando abriu, sem bater, a porta do quarto do neto adolescente.
Na curta pausa de um átimo de segundo, antes de revelar o que flagrara, muita coisa passou pela cabeça dos presentes.
“Ele não tem segredo comigo. Tudo me conta. Mas, naquele dia, ao ser flagrado por mim, gritou: ‘Minha privacidade’”.
A avó contou que já notara o crescimento dos pelos pubianos do garoto. Só não imaginava se deparar com aquela cena e gesticulou descrevendo o que vira.
Começou a movimentar o punho direito fechado pra frente e pra trás. Gargalhada geral com a encenação da vovozinha.
Alguém na mesa falou de onanismo, masturbação. Outro disse que, no tempo dele, na rua dele, era chamado de punheta. “Onanista!”. “Punheteiro”.
E o papo despertou a curiosidade para a origem da palavra onanismo. Um dos presentes mencionou que Onã seria uma figura mitológica.
Os celulares até então estavam esquecidos em cima da mesa, quando alguém decidiu pegar um deles para tirar a dúvida sobre Onã e o onanismo.
O Google deu a pista. Foi revelado que o onanismo não estava originalmente relacionado à masturbação, mas ao desperdício do sêmen.
Onã é um personagem bíblico do Antigo testamento. Não é nenhum popstar do Livro Sagrado. Apenas um figurante.
Neto do patriarca Jacó e filho de Judá, ele era irmão de ER, o primogênito. Mas Er, pelo jeito, não era lá essa gente boa toda. Era mal aos olhos do senhor e morreu cedo.
Er era casado com Tamar e não teve tempo de deixar um herdeiro. Pela tradição hebraica, caberia ao irmão Onã garantir a descendência do brother.
Então Onã teve que ficar com a viúva Tamar. O problema era se ele a engravidasse. O filho seria o herdeiro de Er. Mas, se Tamar não reproduzisse, Onã ficaria com a herança.
Pela solução que deu ao problema, Onã acabou inaugurando o coito interrompido na Bíblia. Ele sempre na hora da ejaculação despejava o sêmen no chão.
O destino de Onã não foi diferente ao de seu irmão. O comportamento dele não caiu nas graças do Senhor, que também não lhe deu vida longa.
“Onã não era propriamente um punheteiro, mas se deu mal com a esperteza…”, alguém disse.
Pacheco Maia é jornalista.