A escritora carioca Nélida Piñon morreu hoje (17) em Lisboa, aos 85 anos. Integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 1989, ela foi a primeira mulher a presidir a entidade. Ocupou o posto entre 1996 e 1997.
Em nota, a ABL destacou a importância de Nélida Piñon. A causa da morte não foi informada. A entidade anunciou que o sepultamento será no seu mausoléu, mas não divulgou a data. A realização de uma Sessão da Saudade está confirmada para o dia 2 de março de 2023, no Salão Nobre. A ABL informou que trata-se de uma cerimônia tradicional, na qual os integrantes externarão o seu sentir e o seu pensar sobre a colega homenageada. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) também lamentou a perda de “uma das mais brilhantes escritoras brasileiras”.
Descendente de galegos, Nélida Piñon nasceu na capital fluminense em 1937 e se formou em jornalismo pela PontifÃcia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Estreou na literatura com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961, que tem como temas o pecado, o perdão e a relação dos mortais com Deus.
Em 1984, lançou uma de suas obras mais marcantes: A república dos sonhos. No romance, baseado na história de uma famÃlia de imigrantes galegos, ela faz reflexões sobre a GalÃcia, a Espanha e o Brasil.
Seus escritos foram traduzidos em mais de 30 paÃses e contemplam romances, contos, ensaios, discursos, crônicas e memórias, que renderam conquistas importantes, entre eles o Prêmio Jabuti, o mais tradicional reconhecimento literário do Brasil. Ela recebeu a honraria na edição de 2005 com o romance Vozes do Deserto. Nélida Piñon recebeu ao longo de sua carreira mais de 40 condecorações nacionais e internacionais.
No meio acadêmico, foi professora na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e obteve o tÃtulo de Doutor Honoris Causa em instituições de ensino de diferentes paÃses. Em 1998, foi a primeira mulher a alcançar esse feito na Universidade de Santiago de Compostela, na região da GalÃcia, na Espanha.
Sua morte foi lamentada por amigos nas redes sociais. “Um silêncio inacreditável se faz na alma dos que amam a literatura. A minha querida amiga de tantos anos, Nélida Piñon nos deixou há pouco em Lisboa. Ela me mandou esta foto semana passada, prometendo estar hoje no Rio para um almoço. Tristeza imensa”, escreveu o jornalista, escritor e gestor cultural Afonso Borges. Junto à postagem, ele compartilhou uma imagem da escritora acariciando no colo seu cachorro de estimação.
O sociólogo Sérgio Abranches também manifestou seu pesar. “Estou arrasado com a morte da amiga querida, Nélida Piñon. Era de uma doçura e gentileza inexcedÃveis. Uma escritora forte. Uma mulher autodeterminada. Uma perda para o Brasil e para a literatura. Uma perda pessoal. Falamos pouco antes de ela partir para Espanha e Portugal”, escreveu.