Pelo décimo primeiro ano consecutivo, os adeptos dos cultos de matrizes africanas vão promover, na madrugada do dia 17 (sexta-feira), a Alvorada dos Ojás. A atividade, na qual as árvores da cidade são amarradas com tecidos brancos utilizados durante as obrigações do candomblé (os ojás), é promovida pelo Coletivo de Entidades Negras (CEN), entidade nacional do movimento negro e terá a sacralização dos tecidos feita no Terreiro Tumba Junsara, uma das casas tradicionais de candomblé no Brasil, tombada como patrimônio histórico do Estado da Bahia.
A atividade também conta com o apoio da Comissão dos Terreiros Tombados, dos terreiros de Lauro de Freitas, de Camaçari e da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi). Os mil metros de ojás utilizados na ação serão pintados pelo artista plástico e diretor do bloco Cortejo Afro, Alberto Pitta.
Exigindo respeito, a atividade puxará, em 2017, a campanha “Não toquem em nossos terreiros”, em referência a alarmantes casos de racismo religioso que resultaram até na destruição de templos.
O cenário, preocupante, pode ser expresso em dados. Conforme levantamento do Ministério dos Direitos Humanos publicado pelo Estadão, entre janeiro de 2015 e o primeiro semestre deste ano, o Brasil registrou uma denúncia a cada 15 horas. No período, ainda segundo o órgão, o Disque 100, canal que reúne denúncias, recebeu 1.486 relatos de discriminação religiosa, sendo que a maioria das violências atingem as religiões de matrizes africanas.
“Essa é uma ação religiosa mas também uma ação política. Todas as vezes que os povos de terreiros saem às ruas para professar a nossa fé, estamos fazendo a ação politica de existir em uma estrutura social que insiste em nos ser hostil. Ao ocupamos simbolicamente o espaço público resistimos às invisibilidades e preterimentos que cotidianamente nos atinge”, afirma o ogã André Santos, membro da comissão dos Terreiros Tombados e professor-doutor da Ufba.
Ato – Em Salvador, a Alvorada dos Ojás acontece a partir das 17h do dia 17 de novembro com a sacralização dos panos no Terreiro Tumba Junsara, terreiro localizado na Vila Colombina nº 30, Engenho Velho de Brotas.
Depois de sacralizados, os ojás serão amarrados em árvores no Dique do Tororó, Campo Grande, Corredor da Vitória e no Pelourinho. Elementos para as religiões afro-brasileiras que, antes de iniciada a atividade de amarrar os Ojás, os rituais serão realizados para pedir licença e proteção aos Orixás e Inquices.
“O ojá é o traje que cobre o ori (a cabeça). Já a árvore é um elemento sagrado da natureza. Sem elas não existiria vida. É sobre a garantia da vida dos fiéis do candomblé que desejamos tratar, é sobre o direito constitucional que as pessoas têm de cultuar a sua religião, a sua fé, ou até, de não possuir religião alguma. Sabemos que o racismo religioso nos atinge porque essas religiões são oriundas da África”, explica o historiador Marcos Rezende, coordenador nacional do CEN, explicando que o objetivo da ação da entidade é alertar a sociedade sobre tais violações.