A comunidade escolar do Colégio Estadual de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, viveu um dia especial, nesta quarta-feira (14), com a visita da comitiva real da República do Benin, composta pelos reis Houwamenou Daagbo Hounon e Gustave Espoir Quenum e pelo embaixador da República do Benin no Brasil, Boniface Vignon.
O encontro proporcionou aos estudantes um contato com aspectos da ancestralidade, da descendência real dos brasileiros e a cultura africana. As autoridades do Benin, por sua vez, conheceram o projeto pedagógico do colégio, voltado ao estudo da África. A iniciativa faz parte do calendário do Fórum Social Mundial, que acontece pela primeira vez na Bahia, com atividades até sábado (17).
A comitiva foi recebida pelos estudantes com a execução dos hinos do Brasil e do Benin e apresentações de samba de roda, além de performance instrumental do grupo Coletivo de Música de Cachoeira e café da manhã com produtos orgânicos oriundos dos agricultores familiares de Cachoeira. “Sinto-me muito lisonjeado de estar visitando uma escola da rede pública estadual que tem a maioria de seus alunos negros e que é situada em uma cidade histórica com descendência africana”, afirmou o rei Houwamenou Daagbo.
Geisiane de Moura, 16 anos, aluna do 3º ano, era uma das mais emocionadas e ansiosas com a visita da comitiva real do Benin. Ela foi a escolhida para dar as boas-vindas ao grupo. “Mais de seis mil quilômetros separam o Benin de Cachoeira, uma vastidão de mar navegado pelos nossos ancestrais. Hoje é dia de celebrar o que nos aproxima, que é a conexão das nossas histórias entrelaçadas, que transformaram estrangeiros em parentes. Histórias que se cruzam e se interligam de uma forma única, de modo que um deixa marcas que nos fazem irmãos de sangue, cultura e fé”, afirmou.
A professora de Língua Portuguesa, Milena Paixão, ressaltou a simbologia da visita da comitiva real do Benin ao Colégio Estadual de Cachoeira, por conta dos laços ancestrais. “Muitos de nós aqui temos nossa árvore genealógica com raízes no Benin. Reforço que negros e afrodescendentes brasileiros não descendem de escravos, mas de homens e mulheres livres, muitos deles reis e rainhas, que foram escravizados. Destaco também o quanto temos que lutar para minimizar as distorções que ainda vivemos dessa escravização. Por exemplo, se pensarmos na rainha Elizabeth, temos a imagem dela nas nossas mentes. E em relação às majestades negras?”, questiona.
O diretor Fábio Macedo também destacou a importância do encontro da comunidade escolar com a comitiva real. “Para todos nós, esta visita foi um marco por se tratar de um país irmão, de onde vieram os nossos ancestrais. Este contato com a ancestralidade mexe com o coletivo e receber uma comitiva de reis do Benim mostra que viemos de um povo africano majestoso. São laços que nos identificam e nos unem”.