19 de abril de 2024
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Roraima: Prefeitura de Boa Vista estima 40 mil venezuelanos refugiados na cidade

Roraima: Prefeitura de Boa Vista estima 40 mil venezuelanos refugiados na cidade

No encontro entre as avenidas Venezuela e Brasil, a praça Simón Bolívar virou refúgio de venezuelanos que chegam a Boa Vista fugindo da crise e da fome. A rotatória que homenageia o libertador da América espanhola tornou-se o lar de cerca de mil pessoas que ali vivem acampadas, sem organização, sem comida, sem teto.

Uma equipe de reportagem do Portal UOL esteve na praça para contar como os venezuelanos tentam reconstruir suas vidas. Cada um se vira como pode para comer, tomar banho, arrumar trabalho e proteger-se da chuva em uma cidade amazônica.

Nas conversas, a tônica é a mesma: “Não me dê comida, me dê trabalho”. A busca por formas de ganhar dinheiro ocupa a maior parte do dia, com a preocupação de garantir a sobrevivência dos que estão no Brasil, e também enviar dinheiro para a família que ficou no país vizinho, devastado pela miséria.

A 200 metros da rodoviária de Boa Vista, capital de Roraima, a primeira imagem que se tem da praça Simón Bolívar é de caos e insegurança. Barracas espalhadas no meio de uma grande rotatória, pessoas vagando, sujeira. No começo da noite de uma quarta-feira, um carro de polícia permanece poucos minutos e logo vai embora.

Zulimar Hernández, 40, chama a atenção ao passar com as duas filhas pequenas. As três, de cabelos molhados, aguardavam para atravessar a avenida em meio aos carros e caminhões rumo à praça mal iluminada, que fica cada vez mais escura. Não há faixa de pedestres no local, apesar da travessia perigosa.

As pequenas, de 3 e 6 anos, e a mãe tomaram banho no posto de gasolina, que cobra R$ 2 pela ducha. Após uma breve conversa, elas aceitam apresentar o lugar em que vivem há 20 dias, quando deixaram uma fazenda nos arredores por problemas com o patrão.

Já na praça, o lugar é mais seguro do que aparenta: o caos da praça Simón Bolívar é um lar para centenas de pessoas desabrigadas. Elas mostram os poucos pertences que possuem e como improvisam a moradia ali: em uma barraca de camping pequena, dormem as meninas e um irmão de 20 anos. Zulimar e o marido, Jésus, e outro filho, de 28 anos, passam as noites sobre caixas de papelão ao relento ou em redes amarradas nas muitas árvores da praça. Elas têm ainda uma cadeira quebrada de plástico e colchonetes.

A escolha da praça para viver não se deu por acaso: a praça está ao lado da rodoviária, onde chegam os ônibus que vêm de Pacaraima (RR), na fronteira com a Venezuela, e a 500 metros da Polícia Federal, onde os venezuelanos pedem refúgio e residência para permanecer no Brasil.

A Prefeitura de Boa Vista estima que 40 mil venezuelanos vivam na cidade atualmente. No entanto, no centro da cidade, a 2,5 km dali, quase não se vê venezuelanos em busca de trabalho ou lavando os vidros dos carros. A maior parte procura empregos nas ruas e nos semáforos perto da entrada da capital.

Nas conversas com os venezuelanos da praça há uma narrativa em comum: buscam emprego para bancar despesas, sair das ruas e para ajudar os que ficaram para trás na Venezuela.

Entre os muitos relatos, todos contam de patrões que pagam menos que o justo e de calotes. Ainda assim, qualquer trabalho vale para assegurar a própria sobrevivência e a da família.

Pela cidade, há placas de papelão pedindo emprego como pintor, pedreiro, carpinteiro e padeiro. Mas a maior parte só pede trabalho –pouco importa a função.




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