Depois de oito anos de trabalho e pelo menos três de atraso, no dia 4 de novembro de 2015 foram inauguradas as duas primeiras de nove estações previstas da linha 5 do metrô de Caracas, na Venezuela. “Missão cumprida, obra maravilhosa”, afirmou na cerimônia de entrega o ditador presidente Nicolás Maduro, sobre o projeto que começou com seu antecessor, Hugo Chávez.
Entretanto, passados dez anos do início das construções tocadas pela empreiteira brasileira Odebrecht com financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o trecho de 1,5 km entre as estações Bello Monte e Zona Rental (que faz a ligação com outras linhas do metrô na capital venezuelana) é o único em funcionamento até hoje. Faltam 7,5 km e seis estações, apenas considerando esta linha.
O Brasil pagou à Odebrecht o equivalente a R$ 2,279 bilhões –ou US$ 690,725 milhões no câmbio desta quinta-feira (22) – referentes a dois empréstimos tomados pelo governo da Venezuela junto ao BNDES, para as obras de expansão do metrô da capital, tocadas por um consórcio liderado pela construtora brasileira. O valor corresponde a 92% do total dos dois financiamentos iniciais concedidos para estes projetos, de R$ 2,445 bilhões, mas apenas uma fração do custo total dos projetos para o governo venezuelano: R$ 35 bilhões.
Apesar disso, as duas obras –construções da linha 5 do metrô de Caracas e da linha 2 do metrô de Los Teques (na região metropolitana da capital venezuelana)– estão paradas desde 2015 e com apenas pouco mais da metade dos trabalhos concluídos. Não há previsão de entrega do projeto.
Segundo o jornal venezuelano “El Nacional”, toda a linha 5 deveria ter sido entregue em 2010. Já a linha de Los Teques deveria estar completamente operacional até o ano que vem.
De acordo com o BNDES, após o financiamento inicial de R$ 2,445 bilhões (US$ 747,190 milhões), foram aprovados outros dois financiamentos para essas duas obras do metrô venezuelano, no valor adicional de R$ 1,762 bilhão (ou US$ 534,202 milhões). Assim, o valor total do financiamento concedido pelo BNDES para estes dois projetos foi de R$ 4,207 bilhões –dos quais R$ 2,279 bilhões foram efetivamente pagos. Os repasses estão suspensos.
O BNDES diz que o empréstimo diz respeito a apenas 9% do valor total da linha 5 de Caracas e 14% da linha 2 de Los Teques. O restante teria sido pago pelo governo venezuelano e financiado por bancos europeus e chineses. Dessa forma, o custo total dos dois projetos seria de R$ 35,692 bilhões (ou US$ 10,816 bilhões). “Como o projeto também depende de recursos venezuelanos, a crise no qual o país se encontra levou a atrasos no avanço físico, em relação ao cronograma previsto. Contudo, como os recursos do BNDES se destinam somente às exportações brasileiras realizadas e comprovadas, o governo venezuelano continuou honrando seus pagamentos mesmo após o atraso no cronograma”, diz a assessoria de imprensa do BNDES.
Propina – Ao todo, a Odebrecht possui 21 grandes obras de infraestrutura na Venezuela. De acordo com a construtora, por meio de sua assessoria de imprensa no Brasil, 11 estão prontos e dez em execução.
Segundo a empreiteira, o BNDES financiou apenas três projetos e o aporte do banco brasileiro foi de 5% do valor destes contratos. De acordo com a imprensa venezuelana, todas as obras da Odebrecht no país estão abandonadas.
Em delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, executivos da Odebrecht afirmaram que a empresa pagava propina para ter influência no BNDES e que pagou US$ 35 milhões em propina a Maduro.
No domingo (25), o jornal “O Estado de S. Paulo” mostrou que, após o pagamento da suposta propina, o governo da Venezuela liberou mais de US$ 4 bilhões para as obras da Odebrecht no país.
De acordo com a ONG venezuelana Familia Metro, o valor pego na obra da linha 5 foi cinco vezes maior que o custo original. A ONG Transparencia Venezuela disse que em 2017 tentou obter informações oficiais sobre as obras da Odebrecht em 11 órgãos oficiais do governo, mas teve todos os pedidos negados.
Uma investigação publicada no jornal “El Nacional”, de oposição, mostrou que o custo do quilômetro do metro construído em Caracas era o mais caro da América Latina (US$ 273 milhões por quilômetro) e que o custo total triplicou desde o início das obras, em 2007.