Interceptação telefônica feita pela Polícia Federal 20 dias antes da Operação Câmbio, Desligo, da Lava Jato do Rio, mostra que os doleiros presos já sabiam, com antecedência, que a investigação estava em curso – e chegando à reta final.
No dia 13 de abril, às 11h31, o suposto doleiro Marcelo Rezinski, que está preso, foi flagrado, com autorização judicial, conversando por telefone com a esposa. Na transcrição do diálogo, a que o site G1 teve acesso, Marcelo diz que falou com “Dadá” “de manhã” – quando teria ouvido que ele iria ficar “um tempinho preso”.
Dadá, segundo os investigadores e fontes ouvidas, é um apelido comum de Dario Messer, que fugiu do cerco policial internacional e, até hoje, segue foragido da Justiça – reforçando a tese do vazamento.
O site G1 apurou que a situação era, de certa forma, esperada. Isso porque, apesar de sigilosa, a delação que originou a investigação, dos dois principais “funcionários” de Messer, envolveu a saída dos doleiros de Benfica por diversas vezes para prestar depoimento – movimentação que, assim que notada pelos demais presos, rapidamente chegou aos ouvidos dos possíveis delatados. Messer era o alvo óbvio de seus subordinados.
Segundo os delatores, Marcelo Rezinski os procurava sempre por aplicativos de celular com criptografia. Ao lado do irmão Roberto, Marcelo, aponta a investigação, vendia dólares no exterior e recebia reais no Brasil, em endereços como “o hotel Sheraton Barra ou Ritz do Leblon”, e, como já teria assumido, trabalharia para “políticos do PMDB”. No total, há movimentações de 12 milhões de dólares na conta dos irmãos no sistema digital dos doleiros.
MARCELO – Sabe quem também vai ficar um tempinho preso?
CINTHIA – Tá, mas de novo?
MARCELO – De novo não, ele nunca foi, né, cara!
CINTHIA – Ah, não! Quem foi foi a Rô!
CINTHIA – Que merda, cara!
MARCELO- É, cara! Falei com ele de manhã!
CINTHIA – Ai, amor! Enfim!
CINTHIA – Né? É complicado, né!
O nome de Dario Messer, considerado o maior doleiro do país, já está na Difusão Vermelha da Interpol. A operação que teve como um dos principais objetivos a prisão de Dario foi deflagrada na quinta-feira (3), mas ele não foi preso e é considerado foragido da Justiça.
A ação teve como base a delação do doleiro Vinícius Vieira Barreto Claret, o Juca Bala, e Cláudio Fernando Barbosa, o Tony, que passaram a cumprir prisão domiciliar na semana passada em função dos termos da colaboração premiada.
Os suspeitos usavam um sistema chamado Bank Drop, no qual doleiros remetem recursos ao exterior através de uma ação conhecida como “dólar-cabo”. Trata-se de um câmbio que envolve depósitos em contas em diferentes países, mas o dinheiro não é rastreável pelo Banco Central: doleiros recebem no Brasil e compensam em contas no exterior. Por não haver remessa, muito menos registro, o montante escapa das autoridades e dos impostos.
Segundo a polícia, eram 3 mil empresas offshore em 52 países, que movimentavam US$ 1,6 bilhão (R$ 5,6 bilhões). As empresas ficam em paraísos fiscais e são usadas para ocultar o verdadeiro dono do patrimônio depositado em uma conta.