28 de abril de 2024
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Duque diz que Lula, Dirceu e o PT dividiam propina de plataformas do Pré-Sal

Duque diz que Lula, Dirceu e o PT dividiam propina de plataformas do Pré-Sal

O ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque afirmou ao juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato em Curitiba, nesta sexta-feira (03), que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro José Dirceu e o PT dividiram os dois terços da propina arrecadada com os contratos de plataformas para exploração do petróleo do pré-sal da Sete Brasil.

“Ele (Palocci) não concordou e está determinando a divisão de 1/3 e 2/3. Um terço para a Casa e dois terços para o partido”, teria dito Vaccari a Duque. “Casa” era o nome usado para a propina destinada aos executivos da Petrobrás e da Sete Brasil.

“Esses dois terços para o partido seriam divididos entre Lula, José Dirceu e o partido.”

Segundo o ex-diretor, ele ouviu isso de João Vaccari Neto, o ex-tesoureiro do PT, que era o homem do partido responsável pela arrecadação de propina da parte política nos contratos da Sete Brasil, empresa criada para intermediar os contratos de plataformas, criada em 2010, que está em recuperação judicial.

Vaccari teria dito que o ex-ministro Antonio Palocci era o responsável pelo acerto e dava as coordenadas. “Quem está cuidando desse assunto é o doutor Antônio, se referindo a Palocci”, teria dito Vaccari, quando consultado sobre a forma de divisão da propina entre os políticos e os executivos da Petrobrás e da Sete – entre eles, Duque.

“Lula, quem cuidaria (do dinheiro da propina) seria Palocci. Zé Dirceu receberia através da Engevix, o agente seria o Milton Pascowicht e o partido seria por conta do Vaccari.”

Duque diz que “a propina era institucionalizado”. “Todos os estaleiros pagaram”, afirmou o ex-diretor, multi condenado na Lava Jato, que teve seus acordos de colaboração premiada rejeitados pelo Ministério Público Federal e passou a colaborar diretamente com a Justiça.

Duque confessou a Moro que recebeu cerca de US$ 3,8 milhões de propinas do negócio da Jurong com a Sete Brasil. O dinheiro foi pago em uma conta aberta em Milão, no banco Cramer.

Duque afirmou ter ouvido de Vaccari um pedido de Lula para que ficasse no cargo na Petrobrás até a consolidação do projeto de criação da Sete Brasil. O ex-tesoureiro do PT teria dito a ele, que recebeu “uma incumbência do Lula pedindo que eu ficasse até o término desse processo”.

“Que esse processo era muito importante não só para o País como para o PT.”

Plataformas – Os contratos de plataformas feitos a partir de 2011 envolveria propina de 1% com os estaleiros Jurong, Brasfels, Enseada do Paraguaçu, Ecovix e Atlântico Sul. Ao todo, eram mais de US$ 20 bilhões em contratos.

Segundo Duque, os pagamentos da Jurong e dos estaleiro internacionais foram destinados aos executivos da Petrobrás e da Sete Brasil, chamado por eles de “Casa”. O valor dos 2/3 para o PT seria bancado pelos estaleiros criados pelas empreiteiras brasileiras, como os da Odebrecht, OAS e UTC, que teria pago Lula.

Além de apontar que a propina de Lula foi paga pelo estaleiro liderado pela Odebrecht, ele explicou que a parte destinada a Dirceu saiu do estaleiro da Engevix e o montante para o PT saiu do estaleiro da Queiroz Galvão e Camargo Corrêa.

Dois processo de propinas de estaleiros nos negócios da Petrobrás via Sete Brasil já foram julgados. Um deles das propinas do Estaleiro Enseada Paraguaçu, da Odebrecht, OAS e UTC. Na mega delação da empreiteira, três delatores também afirmaram que Palocci foi quem cobrou 1% de propina pelos contratos das sondas de perfuração marítima. Seriam seis unidades feitas pelas associadas.

Rogério Araújo, que era o contato da empresa no negócio, disse ter ouvido de um ex-executivo da estatal que o “Sapo Barbudo”, que seria uma referência ao ex-presidente Lula, teria dado instruções sobre o acerto ao PT.

Em 2017, no processo das propinas da Keppel Fels, Duque já havia falado para Moro da divisão dos valores e do comando de Palocci na parte destinada a Lula.

Depoimentos – Nesta sexta-feira, o juiz da Lava Jato ouviu depoimentos de quatro réus do terceiro processo a ser julgado na Lava Jato envolvendo o bilionário negócios dos 21 navios-sondas da Sete Brasil contratados pela Petrobrás à partir de 2011. Além de Duque, falaram Eduardo Musa, delator que era diretor da Sete Brasil e confirmou recebimento de propinas e as divisões de valores com o PT, Guilherme Esteves, lobista representante da Jurong no negócio, e João Vaccari.

O processo é o da Jurong, que tem US$ 2,1 bilhão em contratos com a estatal e envolveria propina de US$ 18,8 milhões. O cálculo toma como base a propina de 1% nos contratos confessa por empresas e pelos agentes públicos da Petrobrás e por dois ex-executivos da Sete Brasil em suas delações premiadas.

Segundo as denúncias da Lava Jato, os acertos eram de pagamento de 1% de propina, sendo que haveria divisão dos valores da seguinte forma: 1/6 para executivos da Sete Brasil, 1/6 para o diretor da Petrobrás Renato de Souza Duque e para o gerente da Petrobrás Roberto Gonçalves, e o restante, 2/3, para o Partido dos Trabalhadores, este representado por João Vaccari Neto.

Defesas – Por meio de sua Assessoria, Lula declarou. “O ex-presidente teve todas as suas contas vasculhadas e jamais recebeu valores ilegais ou teve em Palocci seu representante para receber qualquer valor. Não vamos comentar declarações sem nenhuma prova de presos que buscam fechar acordos para obter benefícios judiciais.”

“Diante da situação em que se encontra Renato Duque é absolutamente compreensível, que depois de anos de prisão, diga o que seus acusadores gostariam de ouvir”, disse o criminalista Roberto Podval, defensor de José Dirceu.

A reportagem fez contato com o PT. O espaço está aberto para manifestação.

João Vaccari também foi interrogado por Moro nesta sexta-feira, mas por orientação de sua defesa informou que permaneceria calado. O ex-tesoureiro nega no processo qualquer envolvimento com arrecadação de propinas e ilícitos.




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