Alguns sintomas característicos permitem suspeitar do autismo ainda na infância. No caso da dona de casa Gleice da Cruz, 29 anos, o alerta começou quando um dos filhos dela, o pequeno Everton, 4, passou a apresentar interrupções na fala e a manifestar repulsa aos cânticos de parabéns nas festas de aniversário. “Tenho outro filho mais velho e sabia que havia algum problema. Resolvi procurar um neurologista e foi quando meu caçula foi diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista (TEA)”, lembra.
Durante mais de um ano, Gleice levou Everton para fazer tratamento em uma instituição filantrópica na Pituba. A família, que mora em Valéria, precisava se deslocar cerca de 20 quilômetros de distância para chegar ao destino. A rotina mudou no mês passado, quando o garoto passou a ser tratado no Centro Especializado de Reabilitação (CER) da escola modelo Subúrbio 360, em Coutos. De lá para cá, tem recebido toda a assistência junto a uma equipe multidisciplinar de saúde.
O CER foi inaugurado pela Prefeitura no fim de janeiro deste ano. Trata-se de um espaço inédito no Subúrbio Ferroviário, voltado prioritariamente ao atendimento de moradores da região e bairros adjacentes, portadores de deficiências física ou intelectual. São 400 pacientes atendidos mensalmente, de todas as faixas etárias – desses total, cerca de 160 pessoas têm TEA. “A estrutura daqui é ótima e os profissionais são bastante atenciosos. Fora que hoje faço trajeto mais curto para casa (são aproximadamente 5.5 km). Meu filho progrediu bastante ao tratamento e já não tem tanta dificuldade de atender a chamados e a olhar nos olhos das pessoas”, conta Gleice da Cruz.
Integração – O administrador do CER, Vinícius Aderne, explica que as atividades realizadas no equipamento de saúde são integradas com diversas especialidades, com a presença de enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, além de médicos neurologista, ortopedista e gastroenterologista.
O acesso ao centro especializado ocorre por intermédio das unidades básicas de saúde do município, que encaminham os pacientes de acordo com o perfil necessário para o atendimento. No CER, o paciente passa por avaliação com um Grupo Operacional, somadas a outras mais específicas.
Após essas etapas, é elaborado um Projeto Terapêutico Singular (PTS), no qual são definidos atividades, circuitos de atendimento e periodicidade das terapias. “Não há um prazo determinado de tratamento. O paciente pode ficar meses ou anos. O tempo varia de acordo com quadro clínico e o desenvolvimento do projeto traçado”, afirma Vinícius.
O CER ainda dispõe de sala de integração sensorial, ginásio infantil e de adulto, onde há objetos projetados para estimular visão, audição, paladar, olfato, equilíbrio e movimento corporal, através da manipulação de itens com segurança e criatividade.
Transtorno – O Transtorno do Espectro Autista começa na infância e tende a persistir na adolescência e na idade adulta. Na maioria dos casos, as condições são aparentes durante os primeiros cinco anos de vida. Apesar de algumas pessoas com o distúrbio consigam viver de forma independente, outras têm graves incapacidades e necessitam de cuidados e apoio ao longo da vida.
Em relação à criança, o autismo pode apresentar atraso de linguagem, dificuldade de se socializar, de interagir com outras pessoas. “Algumas demonstram movimentos involuntários, preferência por uma cor, desejo de enfileirar brinquedos sequenciados ou de balançar um objeto e até o próprio corpo. Há também quem apresente comportamento agressivo, os que são superdotados, que conseguem falar em inglês com apenas três anos de idade”, explica a terapeuta ocupacional Márcia Farias.
“Diante de tantas variáveis, o espectro autista não mais se classifica em graus (leve, moderado e severo), mas engloba um todo”, pontua a psicóloga Bárbara Fernanda. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a estimativa é que, em todo o mundo, uma em cada 160 crianças tem transtorno do espectro autista. Há múltiplas causas para o desencadeamento do transtorno, entre eles, fatores genéticos, biológicos e até ambientais.
Foto: Bruno Concha/Secom-PMS