Um dos espaços mais visitados pelos turistas que vão ao Pelourinho, em Salvador, impressiona por diversas razões: o tamanho, a imponência, a riqueza de detalhes. Mas, sobre os painéis de azulejos da Igreja de São Francisco, que datam de 1742, também chama a atenção um outro aspecto – a ação implacável do tempo. Matéria publicada no jornal Correio nesta sexta-feira (31) informa que, a partir de agora, eles serão restaurados diante dos olhos dos visitantes.
As cerca de 30 mil peças em azulejaria portuguesa que compõem os 110 painéis do claustro continuam a contar, em imagens, passagens bíblicas. Mas, há peças desgastadas, apagadas e até danificadas. O restauro dos azulejos será feito com verba do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), do governo federal, da ordem de R$ 2,6 milhões.
O projeto estava pronto desde o segundo semestre de 2017. Naquele ano, o Correio mostrou que os azulejos descascavam, mesmo depois de uma obra de restauro feita por uma empresa portuguesa, há cerca de 20 anos. Apesar de pronto para ser colocado em prática, o projeto seguia parado, aguardando recursos para sair do papel, o que só aconteceu agora, com a aprovação no edital do FDD.
Segundo informações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que tombou a Igreja e o Convento de São Francisco em 1938, as obras devem ser iniciadas na próxima semana. A previsão de conclusão é de 18 meses. Neste projeto, serão contemplados os painéis do claustro, que ficam na área externa da igreja. Assim, serão restaurados 110 painéis com 550 m² de área total. A obras da área interna não foram contempladas no projeto vencedor do edital.
Ao todo, 30 mil peças de azulejo serão restauradas. O processo, segundo o Iphan, é dividido em etapas. Primeiro, os pedaços serão retirados da parede, mas não sem antes marcações serem feitas para garantir o retorno ao mesmo lugar. Depois de retirados, os azulejos passam por um processo de dessalinização.
“O grande problema é a presença do sal, que reage com a umidade e acaba sendo expulso, danificando o desenho”, explica Mário Vítor Bastos, coordenador do PAC – Cidades Históricas do Iphan na Bahia.
Ainda segundo Mário, essa primeira etapa deve durar em torno de 40 dias para cada uma das peças de azulejo, a depender da quantidade de sal a ser retirada. O próximo passo é a restauração, propriamente dita, dos desenhos nos azulejos. “A duração dessa etapa já é mais incerta, vai depender do estado de conservação, que pode ser diferente para cada parte”, completa.
Durante o período de restauro das peças, o claustro seguirá aberto para visitação do público. A intervenção acabará se transformando em uma ferramenta de educação. É que todo o processo de dessalinização e restauro acontecerá no pátio da própria igreja e poderá ser acompanhada pelos visitantes.