A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou, por 12 votos a zero, a indicação do diplomata Nestor Forster para assumir a embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Ele já tem chefiado, em caráter de interinidade, a missão brasileira em Washington desde o primeiro semestre do ano passado.
Pelo mesmo placar, a comissão aprovou também a indicação de Hermano Telles Ribeiro à embaixada do Brasil em Beirute (Líbano). Ambos ainda deverão ter seus nomes apreciados pelo plenário do Senado, onde necessitam do apoio de “maioria simples” — metade dos senadores presentes mais um.
A indicação de Foster ocorreu logo depois da desistência do cargo pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho de presidente Jair Bolsonaro — a escolha repercutiu mal e não tinha apoio suficiente no Senado.
A embaixada brasileira nos Estados Unidos está com o cargo vago desde junho do ano passado, quando o ex-embaixador Sergio Amaral deixou, de fato, o posto diplomático. É a primeira vez que o principal cargo da diplomacia brasileira fica por um período tão longo sem um embaixador representante.
Forster era cotado já na época da substituição de Amaral, em 2019. Como encarregado de negócios, o diplomata convive, na prática, com uma série de limitações formais para o exercício pleno de suas funções. Por ser interino, ele não dispõe de prerrogativas comuns a embaixadores estrangeiros, como contatos formais com governos estaduais e interlocução com a Casa Branca.
Em março, quando Bolsonaro esteve em Washington, Forster foi o responsável por organizar o jantar do presidente com representantes da direita americana, como o ex-estrategista de Donald Trump, Steve Bannon. Também participou do encontro Olavo de Carvalho, amigo de longa data de Forster. Foi ele, aliás, o responsável por apresentar o atual chanceler, Ernesto Araújo, ao guru dos bolsonaristas.
Durante a sabatina no Senado, Forster afirmou que a repatriação forçada ao país costuma ser do próprio interesse dos imigrantes. Ele disse que o número de brasileiros deportados em território americano ficava em torno de 1,6 mil pessoas por ano até 2018 e subiu para cerca de 18 mil em 2019. Segundo o diplomata, houve um “redirecionamento de organizações criminosas que atuavam na América Central” e passaram a agir com mais força no Brasil.
“Tem se intensificado a repatriação, mas na maioria das vezes isso é interesse dos próprios brasileiros”, disse o embaixador. “Não há violações sistêmicas que possamos identificar. Muitos não querem esperar um processo cujo resultado já se antecipa, mas não há essa dramaticidade das manchetes.”
Há dez consulados do Brasil nos Estados Unidos e todos têm prestado assistência aos imigrantes indocumentados para minimizar a “dimensão humanitária” do problema, segundo Forster. Ele informou que o consulado em Houston tem sido especialmente atuante na fronteira.
O importante, acrescentou o diplomata, é “não misturar as coisas”: existem 1,3 milhão de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos que são reconhecidos por autoridades nacionais e locais como uma “comunidade ordeira e trabalhadora”. “A imagem dos brasileiros é positiva.”