Com o objetivo de proteger e de garantir os direitos das crianças e dos adolescentes, no próximo dia 18 de maio toda a sociedade é conclamada a voltar o olhar para o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual. Na Arquidiocese de Salvador, a Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão (ACOPAMEC), fundada com o apoio de São João Paulo II, já desenvolve, há 30 anos, ações de enfrentamento aos casos alarmantes de vítimas deste tipo de violência.
Uma dessas ações é o acolhimento de crianças e adolescentes em uma das cinco casas-lares que, atualmente, abrigam 40 meninas e meninos encaminhados pelo Ministério Público, Conselho Tutelar e pelo Juizado da Infância e da Juventude. Entre as meninas acolhidas, uma delas tem 15 anos e era obrigada a se prostituir para levar dinheiro para casa. “Eu trabalhava na feira de dia, e à noite eu estudava. O dinheiro não era muito, mas dava para viver. Só que, para a minha companheira, o dinheiro sempre era pouco e eu era forçada a me prostituir para levar mais dinheiro para casa”, diz.
Cansada dos maus tratos e de sofrer agressões físicas, a adolescente terminou o relacionamento e buscou ajuda no Conselho Tutelar. Há pouco mais de três meses sua nova casa é uma das casas-lares da Acopamec. “Cheguei à instituição triste por tudo o que aconteceu comigo. Pelo erro de me prostituir, por ter ficado até grávida de uma forma que eu não queria. Aqui estou tendo apoio, cuidam de mim. Sei que preciso ser forte e agora cuidar da minha filha que nasce daqui a dois meses. Ainda não sei qual nome irei colocar, só sei que quero o melhor para ela. Quero dar tudo o que não tive. Vou estudar, me formar e até fazer faculdade”, enfatiza a adolescente.
De acordo com a psicóloga Nevidalva Santos, que atua na Acopamec há 17 anos, as garotas chegam às casas-lares debilitadas e precisando de ajuda. “Elas chegam aqui muito fragilizadas, outras revoltadas. A gente entra com a parte do acolhimento, da escuta, do acompanhamento. Esses são os princípios básicos que nos dão suporte para a sustentação do acolhido, para que eles ou elas sintam-se amados e protegidos”, conta.
Nas casas-lares as crianças e os adolescentes passam a viver juntos, frequentam a escola, participam de cursos profissionalizantes e permanecem no local até completarem 18 anos. Com esta idade, eles podem deixar a Acopamec, desde que a autoestima esteja recuperada.
Esperança em uma nova vida é o desejo de quem é acolhido e de quem acolhe na Acopamec. Assim revela Maria de Fátima Alves, que há 18 anos se dedica à instituição, na função de Mãe Social. “Assumir o papel de ‘mãe social’ não é uma tarefa fácil. A gente lida com histórias que nos tocam demais, com muito sofrimento, é doído para eles e elas e para nós. Nenhuma delas escolhe estar aqui, são suas realidades de violência que as trazem e nós procuramos cuidar de cada uma delas, de cada um deles. Nosso desejo é que fiquem bem, se fortaleçam, estudem e sigam um caminho diferente dos que as trouxeram aqui”, afirma.
Violência – O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) revelou que em 2018 os números de denúncias referentes a violações contra crianças e adolescentes ultrapassava 76 mil casos, um dado bastante preocupante conforme balanço anual do Disque 100 (Disque Direitos Humanos).
A violência sexual pode ocorrer de diversas formas, entre elas: o abuso sexual e a exploração sexual. O abuso acontece quando a criança ou adolescente é usado para satisfação sexual de uma pessoa mais velha. Já a exploração sexual envolve uma relação de mercantilização, com a intenção de lucro, onde o sexo é fruto de uma troca, seja financeira, de favores ou presentes.
No Brasil, a prevenção e o enfrentamento a esse grave problema demandam a articulação de ações intersetoriais com o objetivo de proteger as vítimas e responsabilizar os agressores, bem como conscientizar a população sobre formas de identificar e denunciar os casos suspeitos.
E é na contramão dos números que denunciam a violência que a Acopamec – Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão promover a formação e a proteção integral de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade, bem como o fortalecer os vínculos familiares e comunitários. Há trinta anos a associação segue como referência de compromisso, ética, profissionalismo, compaixão e sensibilidade solidária, especialmente, nos bairros de Mata Escura e Calabetão.
Em 1993 a organização criou a primeira casa-lar com o objetivo de acolher adolescentes do sexo feminino, vítimas de violência sexual e maus tratos. Com o passar dos anos, essa triste e dura realidade de violência continuava a subir e a ela somava-se outros casos, a exemplo de abandono da família ou pobreza extrema, fazendo com que a ACOPAMEC também acolhesse essas crianças e jovens.
18 de maio – A data foi escolhida como dia de mobilização contra a violência sexual porque em 18 de maio de 1973, na cidade de Vitória (ES), um crime bárbaro chocou todo o país e ficou conhecido como o “Caso Araceli”. Esse era o nome de uma menina de apenas oito anos de idade, que teve todos os seus direitos humanos violados, foi raptada, estuprada e morta por jovens de classe média alta daquela cidade.
A proposta do “18 DE MAIO” é destacar a data para mobilizar, sensibilizar, informar e convocar toda a sociedade a participar da luta em defesa dos direitos sexuais de crianças e adolescentes. É preciso garantir a toda criança e adolescente o direito ao desenvolvimento de sua sexualidade de forma segura e protegida, livres do abuso e da exploração sexual.
Texto: Pascom/Arquidiocese de Salvador
Foto: Divulgação