Por conta das fortes chuvas que vêm atingindo a Bahia desde novembro, o nível de água da barragem de Pedra do Cavalo, localizada entre os municípios de Governador Mangabeira e Cachoeira, no Recôncavo Baiano, subiu e está em 77%. Para evitar uma inundação nas comunidades próximas, as comportas foram abertas no último dia 10. Ainda não há previsão para que elas sejam fechadas, já que a previsão é de continuação das chuvas no Verão.
A medida tem por objetivo criar volume de espera para o amortecimento da cheia que está ocorrendo na Bacia do Rio Paraguaçu, que a alimenta. Desta forma, as comunidades ao longo do rio são protegidas ao evitar o rompimento: Cachoeira, São Félix e Maragogipe.
O período úmido da Bacia do Paraguaçu vai de dezembro a março. De acordo com o engenheiro Gilvan Lima, Diretor de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (DMR) da Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (CERB), as comportas precisam ficar abertas até ser atingido o nível estabelecido na regra operativa, previsto para que se obtenha o volume de espera desejado na barragem, que é a cota 114,50m. Hoje, a barragem está na cota 116,57 m, o que corresponde ao volume total de 4,1 bilhões de metros cúbicos.
Segundo Eduardo Topázio, diretor de recursos hídricos e monitoramento ambiental do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), abrir as comportas de Pedra do Cavalo é um procedimento comum para essa época do ano e trata-se de uma medida de segurança. “A maioria das barragens não tem comportas, no máximo, descarga de fundo. Mas Pedra do Cavalo é uma barragem gigantesca, então tem várias comportas. Quando temos fortes chuvas assim no Alto Paraguaçu, as comportas são abertas. O que se faz agora é liberar água aos poucos para que, caso chegue um volume muito grande de água da chuva, não haja uma inundação”, diz.
Topázio diz que outra opção seria liberar água através da geração de energia, mas, neste caso, não foi possível. “A barragem passou por um problema nos turbinamentos de eletroenergia. E temos uma regra que determina a abertura quando atingimos um nível muito alto em período chuvoso”, explica.
A abertura de comportas não é a primeira opção porque não é um procedimento simples e pode afetar a biodiversidade e a população às margens do rio. Segundo o diretor, mesmo que não haja risco de inundação das comunidades, quem ocupa o entorno de maneira irregular será atingido, porque trata-se de uma área de inundação prevista. “Quem ocupa o entorno do lago vai reclamar, porque a área é atingida. Mas isso é previsto, é uma área de inundação, essa ocupação é irregular”, argumenta.
A abertura afeta a quantidade de oxigênio e de outros elementos na água, além da quantidade de água nos rios, o que pode levar à morte dos peixes e comprometimento da mata ciliar. Além de impacto ambiental e risco à biodiversidade, esses eventos levam a impactos sociais e econômicos para as populações de pescadores e ribeirinhos que dependem da pesca para viver. “A abertura das comportas pode gerar um impacto relativo na área baixa, por isso evitamos esse procedimento. Porque o índice de água doce aumenta e o ambiente, já acostumado à água salgada, sofre alterações”, finaliza Topázio.
As chuvas na Bahia – Fortes chuvas atingem o sul, sudoeste e extremo-sul da Bahia desde o início de dezembro. Até o momento, foram registradas 14 mortes, segundo balanço da Superintendência de Proteção e Defesa Civil do Estado da Bahia (Sudec). Foram 276 feridos, 4.453 desabrigados e 15.483 desalojados. Ao todo, 63 municípios estão em situação de emergência.
“Neste período, as pessoas estão falando mais do sul da Bahia por conta da maior quantidade de dias seguidos com chuvas intensas por lá, mas tem chovido com frequência desde novembro em grande parte do Estado, inclusive no Recôncavo. Para dar um exemplo, a média de dezembro para Salvador é de 58 mm e já tínhamos, até a quinta (16), 194,8 mm”, destaca a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Cláudia Valéria.
“Essas chuvas podem ser explicadas pelo fenômeno que temos todos os anos chamado de Zcas, Zona de Convergência do Atlântico Sul. É um grande corredor de umidade que fica sobre o estado, passando pelo oeste, Vale do São Francisco, sudoeste e sul. Este ano, por conta da maior influência do La Niña, esse fenômeno está intensificado e mais frequente, provocando chuvas mais volumosas e com maior duração”, completa. Esse cenário vem acontecendo desde novembro, e a previsão é de que a região Nordeste do país, inclusive a Bahia, continue com fortes chuvas ao longo do Verão.
Segundo as autoridades, atualmente não existe risco de inundação de comunidades ribeirinhas à jusante decorrente da liberação de vazões da barragem de Pedra do Cavalo. O único registro de inundação ocorreu em dezembro de 1989, quando o Paraguaçu transbordou o nível da Barragem da Pedra do Cavalo e avançou sobre as históricas cidades de Cachoeira e São Félix. O Paraguaçu é o maior rio da Bahia e liga a Baía de Todos-os-Santos ao Recôncavo e sertão.
Em nota, a prefeitura de São Félix informa que o píer flutuante da cidade foi amarrado à ponto para não se soltar e ser levado pela correnteza provocada pela abertura das comportas. A prefeitura destaca ainda que, mesmo sem inundação, a população ribeirinha é afetada, já que pescadores ficam impedidos de trabalhar devido à correnteza e morte de peixes. O comunicado completa que a prefeitura está monitorando a situação e que haverá risco de cheia caso a quantidade de chuva aumente.
Um plano de Ação Emergencial está sendo elaborado na cidade, assim como em Cachoeira. A prefeitura de Cachoeira também informa em nota que está monitorando o nível da barragem e que tem divulgado diariamente boletins com informações sobre o nível e o funcionamento de Pedra do Cavalo.
O coordenador da Defesa Civil de Maragogipe, Carlos Francisco Conceição, relata que uma visita foi feita à barragem e também uma reunião com a Defesa Civil do Estado. “A preocupação existe a todo momento, dezembro e janeiro são meses de alerta por conta das chuvas no Paraguaçu e especialmente este ano estamos tendo diversas frente-frias. Mas tivemos uma reunião com a Defesa Civil do Estado, fizemos uma visita à barragem e foi garantido que Pedra do Cavalo está em perfeito estado, que a abertura das comportas é necessária agora, mas não é sinal de risco e não há necessidade de deslocar a população ribeirinha, por exemplo”, diz.
Conceição ainda acrescenta que a previsão é de chuva para o mês de dezembro na cidade. “Até o momento, no mês de dezembro, o volume de chuvas está controlado, nesta quinta-feira (16), foram registrados cerca de 10 mm. Mas a previsão é de que o cenário mude nos próximos dias. Segundo a Defesa Civil do Estado, estima-se que 2021 tenha o dezembro mais chuvoso dos últimos 20 anos e, de acordo com Conceição, Maragogipe não deve escapar das chuvas”, finaliza.
Barragem de Poço do Magro – A barragem de Poço do Magro, em Guanambi, é alimentada pelo Rio Riachão e também está cheia por causa das fortes chuvas, mas não ultrapassou o limite, não sendo necessário abrir comportas. Segundo a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que administra a barragem, Poço do Magro está com 42,5% de sua capacidade total. Nesta sexta (17), a cota estava em 515 m, sendo que a cota máxima é de 519m.
Em nota, a Codevasf informa que, caso o reservatório atinja a cota máxima, os sangradouros da barragem devem suportar a passagem de volume de água. A companhia destaca ainda que “na atual situação, não há risco de inundação ou de atingimento de comunidades ribeirinhas”. O Rio Riachão tem período chuvoso de outubro a abril.
Em 1992, Guanambi foi atingida por uma inundação provocada por fortes chuvas, mas por conta do transbordamento da barragem de Ceraíma. Segundo a prefeitura de Guanambi, a barragem tem capacidade de armazenamento de 51 milhões de metros cúbicos e ainda irá demorar de atingir o seu limite. “O Departamento de Defesa Civil da Prefeitura de Guanambi e a Codevasf, que é a responsável pelos reservatórios, monitoram o nível das barragens”, diz a nota da prefeitura.
Foto: Divulgação/GOVBA