29 de abril de 2024
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Rússia bombardeia a capital da Ucrânia em resposta a explosão na Criméia

Rússia bombardeia a capital da Ucrânia em resposta a explosão na Criméia

A Rússia lançou nesta segunda-feira (10) uma série de bombardeios contra importantes cidades ucranianas, como o centro da capital Kiev, distante da frente de batalha. Com estruturas de energia, comunicações e instalações militares como alvos principais, os ataques mais amplos desde o início do conflito são uma retaliação à maciça explosão que derrubou no sábado um trecho da ponte estratégica que liga a Península da Crimeia ao território continental russo, incidente que o presidente Vladimir Putin classificou como um “ato terrorista” ucraniano.

Na abertura de uma reunião do seu Conselho de Segurança convocada no fim de semana, Putin disse que a Ucrânia “praticamente se pôs no mesmo patamar que formações internacionais terroristas” ao atacar a ponte na Crimeia. Como “deixar um crime desses sem resposta é simplesmente impossível”, afirmou o presidente, Moscou fez um “ataque maciço com armas de amplo alcance e alta precisão” contra “infraestruturas de energia, comandos militares e comunicações” da Ucrânia:

— Se tentativas de realizar ataques terroristas contra o nosso território continuarem, as medidas tomadas pela Rússia serão severas e sua dimensão corresponderá ao nível de ameaça à Federação Russa. Ninguém deve ter dúvidas sobre isso — afirmou Putin, que ainda no sábado havia anunciado a troca do comandante de sua ofensiva na Ucrânia, nomeando o general do Exército Sergei Surovikin, que o serviço de Inteligência militar de Kiev disse no fim de semana ser um especialista em guerra aérea.
Rússia faz bombardeio em massa contra cidades na Ucrânia

Os bombardeios russos mataram ao menos oito pessoas e feriram 36, números que os ucranianos afirmam poder aumentar, e derrubaram o abastecimento de energia e outros serviços essenciais pelo país. Em Kiev, foram os primeiros desde junho, atingindo um cruzamento movimento na hora do rush matinal. Foi também o ponto mais próximo do Parlamento e do escritório de Zelensky já bombardeado por Moscou desde que o conflito eclodiu, em 24 de fevereiro.

Ao todo, afirma a Presidência ucraniana, foram registrados bombardeios contra 12 regiões do país, entre eles em cidades como Lviv, no Oeste ucraniano, e Dniéper, no centro, além de regiões mais perto das frentes de guerra e bombardeadas com maior frequência — entre elas Zaporíjia e Mykolayiv, ambas no Sul. Também há relatos de explosões no porto de Odessa, no Mar Negro, e alarmes dispararam por todo o território ucraniano, exceto a Crimeia, ocupada pelos russos há oito anos.

Pouco após a fala de Putin, o Ministério da Defesa russo disse que os ataques “atingiram seu objetivo” e que “todos os alvos foram atingidos”.

Segundo o Estado-Maior ucraniano, foram disparados ao menos 77 mísseis entre 6h20 e 11h15 (0h20 e 5h15 no Brasil), com ataques aéreos vindos também da Bielorrússia, onde o regime é aliado de Moscou, da Crimeia e de barcos russos no Mar Negro, que supostamente cruzaram o espaço aéreo da Moldávia. Ao menos 41 projéteis foram abatidos pelos sistemas de defesa ucranianos.

— É uma manhã dura. Estamos lidando com terroristas. Dezenas de mísseis, drones iranianos. Eles têm dois alvos: infraestruturas de energia pelo país (…) e o povo. O timing e os alvos foram escolhidos a dedo para causar o máximo de dano possível — disse Zelensky, em um pronunciamento por vídeo, no lado de fora da sede do governo. — Eles querem pânico e caos, querem destruir nosso sistema de energia. Eles não tem esperança.

A prefeitura de Kiev pediu a todos os moradores que fiquem em abrigos e que pessoas de fora evitem se dirigir até a cidade. Na internet, circulam imagens de estações de metrô cheias, como a de Vystavkovyi Tsentr, no centro da cidade, lotada de famílias em busca de proteção dos bombardeios, que ocorreram nos arredores de uma universidade e das residências de embaixadores ocidentais e perto do parque Shevchenko, onde um parque infantil e uma ponte para pedestres foram danificados.

Kiev sofreu bombardeios pesados ​​no início da guerra, quando a estratégia russa era atingir e tomar as grandes cidades ucranianas, algo que se provou fracassado. Desde que Moscou recalculou sua rota, contudo, a capital estava em relativa calmaria, com a população vivendo uma rotina não muito diferente da vista em outras capitais da região. O alerta de bombardeios iminentes só foi suspenso na cidade por volta de 12h30 (6h30 no Brasil).

Em Dniéper, cidade no centro da Ucrânia que é vista como relativo porto-seguro para quem foge da frente dos conflitos, os bombardeios “maciços” deixaram “mortos e feridos”, segundo o chefe militar local, Valentyn Reznichenko. De acordo com moradores, mais de dez explosões foram registradas durante a madrugada.

Em Kharkiv, no Leste, o prefeito disse que ataques às redes elétricas interromperam o abastecimento de energia, e o fornecimento de água também foi cessado. O cenário é similar ao de Ivano-Frankivsk, no Sudoeste do país, onde poucos ataques foram vistos nos oito meses de guerra. No domingo, um ataque com mísseis russos na cidade de Zaporíjia, no Sul, já havia matado ao menos 14 pessoas.

O ex-presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, aliado de Putin que hoje é vice-presidente do Conselho de Segurança russo, disse que os ataques recentes “são o primeiro episódio” e que o objetivo é “desmantelar o regime político ucraniano”. Já o líder checheno Ramzan Kadyrov elogiou os bombardeios pela Ucrânia, afirmando estar “100% contente” com a conduta militar apenas uma semana após criticá-la e pedir o uso de armas nucleares táticas.

Desde agosto, a contraofensiva ucraniana vinha impondo reveses significativos a Moscou, embora o Kremlin ainda mantenha o controle de cerca de 15% do território do país vizinho, equivalentes a cerca de 120 mil km². Kiev não assumiu diretamente a culpa pelo ataque contra a ponte da Crimeia, apesar de funcionários da alta cúpula de Zelensky, incluindo o próprio presidente, fazerem diversos comentários irônicos neste sentido.

A Península da Crimeia, sede da Frota do Mar Negro russa, foi cedida à Ucrânia nos anos 1950, no período soviético, e anexada à Rússia por Putin em 2014, depois da queda de um governo pró-Moscou em Kiev. Putin inaugurou pessoalmente a Ponte do Estreito de Kerch em 2018, quatro anos depois. A ponte é essencial para o transporte de pessoas e mercadorias, e agora também para abastecer as tropas russas enviadas à Ucrânia.

No domingo, em um vídeo divulgado pelo Kremlin, Putin culpou o serviço secreto ucraniano pelo ataque, descrevendo-o como um “ataque terrorista com o fim de destruir infraestruturas civis russas”.

Em paralelo, a Bielorússia anunciou nesta segunda que montará um agrupamento de tropas junto com Moscou, disse o presidente Alexander Lukashenko, no poder initerruptamente desde 1994. Ele não especificou o tamanho ou a finalidade da iniciativa, mas afirmou que o Ocidente almeja “atrair” Minsk para uma guerra e que a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar comandada por Washington, cogita “uma possível agressão contra o nosso país”.




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