Primeira piauiense a conquistar o título de Miss Brasil Mundo, a estudante Jéssica Carvalho, 22, tem uma história de superação. Coroada no início da madrugada deste domingo (12) em Angra dos Reis (RJ), a jovem contou ao F5 que já passou fome e superou muitas dificuldades, mas deu a volta por cima.
“Sou bolsista integral do curso de medicina de uma universidade particular em Teresina, o que é a realização de um sonho, pois sou a primeira da minha família a alcançar isso. Nenhum dos meus parentes tem curso superior. Morava longe e, como não sei dirigir e nem tenho carro, acordava cedo e pegava dois ônibus todos os dias para poder estudar. Já passei fome, sem ter o que comer. Hoje superei tudo isso e estou aqui”, disse logo após a cerimônia.
Nascida no município de Parnaíba, a cerca de 330 km de Teresina, a bela deixou para trás 47 concorrentes na final do Miss Brasil Mundo 2018, mas diz que não esperava a vitória. “Embora a gente sempre queira ganhar, foi uma surpresa. Assim que meu nome foi anunciado, tive uma das melhores sensações da minha vida e estou ainda tão extasiada que nem consegui chorar”, afirmou.
“Todas que competiram comigo são lindas, engajadas e preparadas. Acredito que minha história de vida me tornou uma mulher determinada, de coragem e garra para seguir meus sonhos e objetivos. Esse foi meu diferencial”.
Uma inspiração para Carvalho foi a israelense Linor Abargil, vencedora do Miss Mundo 1998 que foi violentada sexualmente poucas semanas antes de embarcar para o concurso. “Mesmo assim, ela não deixou que isso a definisse ou a abatesse, representou seu país e venceu. Em seguida, iniciou uma campanha contra o abuso sexual de mulheres. É uma miss que me representa!”.
Carvalho foi coroada pela fluminense Gabrielle Vilela, 26, sua antecessora. Em segundo lugar ficou a Miss Amazonas, Jainy Lemos, 22, e em terceiro a Miss Espírito Santo, Marina Ramada, 22. O concurso garante vaga para representar o país no Miss Mundo 2018, que será em dezembro, na cidade chinesa de Sanya.
Com a vitória do Piauí, o resultado da etapa brasileira destoa das faixas geralmente consagradas. Nos últimos vinte anos, os títulos ficaram principalmente em um “bate bola” entre alguns estados: Rio de Janeiro (1999, 2012 e 2017), Rio Grande do Sul (2011, 2013 e 2014), Santa Catarina (1998, 2002, 2007), São Paulo (2001, 2015) e Goiás (2006 e 2016). As participações especiais nesse período ficaram com Minas Gerais (2008), Roraima (2009), Pará (2010) e, agora, o Piauí.
“É uma realização muito grande levar esse título para o meu estado. A mulher piauiense não é apenas bonita, mas também guerreira, pois enfrenta muitas lutas por conta da pobreza que temos lá”, diz a miss.
“Trabalhei muito pelo título e acredito que, mesmo com boas candidatas no passado, só faltava uma preparação mais forte como a que tive. Uma equipe me auxiliou, e entre outras, tive aulas de oratória e passarela, além do apoio de nutricionista, psicólogo e outros profissionais”, revelou.
Em 2017, a também piauiense Monalysa Alcântara venceu o Miss Brasil Be Emotion. Ela teve a grande primeira conquista nacional para o Piauí e representou o país no Miss Universo daquele ano. Porém, para o Miss Mundo, será a primeira vez.
Carvalho chegou a conhecer a conterrânea quando disputou com ela o Miss Piauí Be Emotion 2017. “Perdi para a Monalysa com louvor, já que ela venceu o Miss Brasil Universo. Eu e ela temos uma história muito parecida, pois somos ambas de origem humilde e guerreiras”.
Premiação – Além da faixa e preparação, a miss leva para casa uma coroa exclusiva criada pelo estilista mineiro Tiago Seixas. A joia conta com pedras nas cores da bandeira nacional, uma pedra lilás pela luta contra a hanseníase e a flor-de-lis representando a realeza.
Um relógio, uma joia em ouro e esmeralda e uma viagem para Los Angeles com participação em um desfile completam os prêmios.
O show foi transmitido ao vivo pela Rede Brasil e no canal do Concurso Nacional de Beleza no YouTube. Uma das anfitriãs foi a apresentadora esportiva Livia Nepomuceno, que disputou o título em 2009, e a ex-BBB Jéssica Mueller estava entre os jurados da noite.
O evento celebrou 60 anos e, para tal, a organização recebeu algumas vencedoras anteriores, como a médica carioca Lúcia Petterle, 69, dona da faixa de Miss Mundo 1971 e única brasileira a vencer o certame internacional.
Na sexta (10), o paulista Samuel Costa, 24, levou o título de Mister Brasil CNB 2018, a versão masculina da premiação.
Pontuação – Caracterizado por provas preliminares classificatórias, o Miss Mundo é mais conhecido na Europa e Ásia, e um dos concorrentes do Miss Universo —por sua vez, popular nos países latino-americanos.
Em Angra, o Hotel do Bosque foi o cenário onde as misses e misteres participaram de desfiles moda praia e noite, prova de talentos, além de uma entrevista preliminar. Outro desafio que vale pontos é a apresentação e defesa de um projeto social, que deve ter sido idealizado e executado pela própria miss em sua região de origem.
Este ano, o Miss Mundo anunciará a sucessora da indiana Manushi Chhillar, 20. Em 2017, Gabrielle Vilela passou no primeiro corte (Top 40), mas não avançou no segundo (Top 15).
Criado em 1951 no Reino Unido por Eric Morley, hoje o concurso é presidido por sua viúva Julia Morley. A vencedora passa o reinado atuando em projetos sociais ao redor do mundo em nome da Miss World Organization, que soma mais de US$ 650 milhões (R$ 2,5 bi) em doações.
As atrizes Suzy Rêgo (1984), Mel Fronckowiak (2007) e Vitória Strada (2014) já disputaram a faixa nacional. Nos EUA, Lynda Carter (1972) e Halle Berry (1986) são destaques.