Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou movimentações financeiras atípicas – de R$ 2,5 milhões – na conta do deputado federal David Miranda, do PSOL do Rio de Janeiro.
As informações sobre a movimentação financeira de David Miranda apareceram numa investigação do Ministério Público do Rio para apurar supostas ilegalidades em gráficas no município de Mangaratiba, na Costa Verde. A investigação começou em 2014 e não tinha relação com o deputado, que na época era vereador.
Uma reportagem publicada nesta quarta-feira (11) pelo jornal O Globo afirma que David Miranda contratou serviços de uma das empresas investigadas e, por isso, acabou tendo as contas analisadas pelo Coaf – atualmente, o órgão é vinculado ao Banco Central e passou a se chamar UIF (Unidade de Inteligência Financeira).
Em nota, o deputado nega que tenha feito tal contratação, afirmando que os materiais de divulgação produzidos por ele sempre foram rodados no Rio e, poucas vezes, em Niterói, na Região Metropolitana (veja no final do texto a íntegra de David Miranda).
O jornal revela que o relatório de inteligência financeira apontou “movimentação atípica” do deputado de R$ 2,5 milhões, entre abril de 2018 e março de 2019 – movimentação atípica não significa necessariamente ilegalidade, a não ser que a origem dos recursos seja ilícita.
O Coaf indica que R$ 1,3 milhão entrou na conta corrente do parlamentar, registrada em uma agência do Banco do Brasil que fica em Ipanema, na Zona Sul do Rio. As saídas somaram R$ 1,2 milhão.
A reportagem também afirma que o relatório do Coaf foi enviado ao MP dois dias depois da divulgação das mensagens atribuídas a autoridades da Lava Jato pelo The Intercept Brasil. David Miranda é casado com o editor do site, o jornalista Glenn Greenwald.
A partir do documento do Coaf, o Ministério Público do Rio abriu uma investigação sobre as movimentações de David Miranda.
No relatório, os analistas do Coaf consideram “suspeita de ocultação de origem” uma série de depósitos de valores que giravam entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil, feitos em dinheiro vivo.
Eles destacam o fracionamento dos depósitos e também a existência de repasses de funcionários do gabinete ao deputado.
Os investigadores suspeitam que funcionários do gabinete devolviam parte dos salários aos parlamentar. Esse esquema é conhecido como “rachadinha”.
O MP chegou a pedir a quebra dos sigilos fiscal e bancário de David Miranda e de quatro assessores e ex-assessores do deputado, mas a Justiça do Rio negou a solicitação.
O Coaf também encaminhou o relatório de investigação financeira de David Miranda para a Procuradoria-geral da República, que fica em Brasília. Mas o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, suspendeu todas as investigações que usaram, sem autorização judicial, dados do Coaf, da Receita federal e do Banco Central.
A decisão de Toffoli vale até o julgamento definitivo, previsto para novembro.
David Miranda disse nesta quarta-feira, em Brasília, que a abertura de investigação é uma retaliação ao trabalho do marido na divulgação de mensagens de autoridades da Lava Jato.
“Isso é uma retaliação óbvia sobre o trabalho que o Intercept e meu marido Gleen Greenwald tem feito porque essa investigação começa dois dias depois que Gleen começa a fazer as publicações”, disse Miranda.
Para justificar as movimentações, David Miranda afirmou que tem outras rendas além do salário como deputado e é sócio do marido numa empresa nos Estados Unidos.
O deputado negou que assessores tenham devolvido parte do salário para o gabinete, quando ele era vereador, e disse que os depósitos fracionados vieram de um funcionário que trabalhava na casa dele.
“Ele era funcionário meu de carteira assinada, que trabalhava para mim na minha residência como office boy. Então, ele fazia retirada nessa conta dos Estados Unidos e depositava nessa conta do Brasil para eu poder pagar as minhas contas porque eu não podia fazer a transferência”, disse.