Diga-me o que você acha e isso será a verdade. Estamos vivendo tempos nebulosos no campo do saber. Destronamos a razão, para dar espaço aos achismos. Alguém acha alguma coisa certa, sem se preocupar se as premissas são verdadeiras, e começa a defender como verdade. Ainda existem aqueles, mais manipuladores, que emendam meias verdades para dizer uma grande mentira.
Chama-se tudo isso de pós-verdade.
O certo é que ficou impossível dialogar e perdemos a capacidade de fazer os mundos se encontrarem. Essa é uma fase empobrecedora da humanidade. O que será dessa geração? Como construir saberes e verdades consistentes, se não há preocupação com a veracidade das informações e o mínimo de zelo com o pensamento lógico?
A ciência e a lógica foram enterradas completamente. As pessoas perderam a vergonha de se contradizerem. São capazes de defender posições que traem seus valores, de falar uma coisa de manhã e fazer outra a tarde, de participar fervorosamente de uma instituição e praticar valores contrários, de dizer que ama e depois espancar a pessoa amada, de ser cristão e odiar o irmão. É uma esquizofrenia intelectual e pragmática sem precedentes na história.
Estive me perguntando, onde está a raiz de tudo isso? Não hesitei em pensar que esteja na nossa educação, entre outros motivos. Desde cedo somos estimulados a dizer o que pesamos, sem nunca nos estimular a ler os clássicos. Todos devem dar sua opinião, mas ninguém leu a opinião dos cientistas, dos filósofos ou dos sábios escritores. Como dizer o que acho, sem ter lido as grandes teorias? Como dizer o que penso, se não sei o que disseram sobre esse assunto?
Devemos repensar nossa forma de ensinar, claro que nossos alunos devem pensar por si mesmos, mas em cima de bases concretas, teorias bem embasadas, premissas razoáveis, fatos históricos. Pelo menos, nossos estudantes , devem aprender a não se contradizerem, deve ter o mínimo de lógica em suas formulações.
Na Grécia antiga, os grandes filósofos combatiam os sofistas, que eram um grupo de ditos filósofos, mas sem compromisso com a verdade. Eles ensinavam aos jovens a convencer usando falácias. Maquiavam a realidade para conseguirem seguidores e adeptos. Os filósofos clássicos, desarmavam esses raciocínios falaciosos e desmascaravam os sofistas.
Hoje precisamos dar mais ouvido aos pensadores sérios, pessoas que se preocupam com a razoabilidade no pensar e tem pelo menos bom senso. Precisamos ler os clássicos, assim, metade das besteiras que pensamos, não as verbalizaríamos. Lendo bons pensadores, teríamos condições de formular melhor nossos argumentos.
É necessário superar essa fase da ditadura do achismo. Abandoar essa bestialidade de achar que o que acabei de pensar é verdade absoluta. Isso tem feito vítimas, separado amigos, machucado famílias, distanciado casais. Todos nós temos o direito de pensar, de defender ideias, ter posições, mas, por favor, não se contradigam e nem saiam por aí dizendo besteiras. Diga-me a verdade e seja coerente.
Frei Rogério Soares, O. de M., é presidente do Centro Avançado de Empreendedorismo Nordeste de Amaralina (CAENA).