Desde a minha chegada a Salvador, com a graça e a responsabilidade de arcebispo da Sé Primacial da Igreja Católica, tenho procurado conhecer, valorizar e divulgar a nossa cidade e o nosso Estado, encantado com seu patrimônio histórico, artÃstico e cultural, com suas belezas naturais, com seu povo alegre e acolhedor e, de modo especial, com a fé vivida ao longo dos séculos, simbolizada pelas suas belas igrejas. Embora seja justo esperar o reconhecimento do que somos e do valioso patrimônio que herdamos, cabe a nós, soteropolitanos e baianos, a tarefa de valorizar a nossa cultura e a nossa gente.
A BaÃa de Todos os Santos, com seus encantos, deu nome ao Estado da Bahia. Contemplando a nossa história, reconhecemos com gratidão o testemunho de santidade de tantas pessoas que se estende como um hino incessante de louvor. O nome escolhido para a larga e formosa baÃa, por causa do Dia de Todos os Santos, preanunciava que ela seria a terra em que santos iriam habitar, como São José de Anchieta, Santa Dulce dos Pobres e Beata Lindalva, ou visitar, como Santa Teresa de Calcutá e São João Paulo II. A Bahia de santos anônimos, homens e mulheres que vivem a santidade no anonimato da vida cotidiana, e daqueles que já chegaram aos altares.
Estamos habituados a pensar nos santos situando-os no céu ou nos altares. De fato, o céu é a pátria definitiva dos santos. Contudo, antes de chegarem lá, viveram na terra, em meio a alegrias e dores, tristezas e esperanças; pediram perdão e perdoaram; amaram e foram amados, como ocorre conosco. A santidade não se expressa primeiramente por milagres, enquanto feitos extraordinários, mas pelo grande milagre da vivência fiel da fé no dia a dia, com suas exigências em relação ao próximo. O louvor a Deus nos templos deve se prolongar na vida cotidiana. Glorificar a Deus pelo nosso viver, pelo amor ao próximo, pela caridade para com os pobres e sofredores, num mundo tão necessitado de amor fraterno.
Quem percorre o caminho da santidade manifesta o amor de Deus nos ambientes em que vive através de gestos concretos de fraternidade, solidariedade e serviço, sustentado pelo amor divino. Assim viveram os santos que percorreram a BaÃa de Todos os Santos e fizeram da Bahia uma terra de santos, como a nossa amada Santa Dulce dos Pobres, modelo e estÃmulo para a vivência da santidade no mundo de hoje, através da caridade para com os pobres e os doentes.
O belo nome dado ao relevo, à baÃa de Todos os Santos, possa ser sinal e recordação do chamado à santidade dirigido a todos os que habitam esta porção do território brasileiro. O exemplo dos santos que aqui viveram ou passaram nos motive a reconhecer os sinais de santidade vividos entre nós, hoje, motivo de ação de graças e de esperança.
Dom Sergio da Rocha é Cardeal, Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil.