5 de maio de 2024
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Odebrecht troca Luciano Guidolin por Ruy Sampaio na presidência do grupo

Odebrecht troca Luciano Guidolin por Ruy Sampaio na presidência do grupo

A disputa na família Odebrecht, que coloca pai e filho como antagonistas, se acirrou fortemente nas últimas semanas e precipitou uma mudança na presidência do grupo antes mesmo da aprovação de um plano de recuperação para reorganizar R$ 55 bilhões em dívidas.

Nesta segunda-feira (16), em Salvador, uma reunião da holding familiar Kieppe aprovou a saída de Luciano Guidolin e sua substituição por Ruy Sampaio, homem de confiança de Emilio Odebrecht e que estava à frente do conselho de administração da holding Odebrecht S.A. (ODB), conforme o Valor PRO antecipou.

O jornal Valor informa que o grupo tem uma assembleia de credores marcada para quinta-feira (19). No encontro, ainda não haverá o tão aguardado detalhamento do plano de recuperação, que depende de um acordo com os bancos ainda em negociação. Já está dado que a conclusão do processo, segundo fontes próximas ao tema, ficará para 2020.

Aos 69 anos, Ruy Sampaio chega para dirigir o negócio diante da decisão de Emilio Odebrecht de enfrentar, de forma mais dura, a atuação do filho Marcelo Odebrecht, que intensificou as investidas na tentativa de voltar a dar as cartas na gestão. Formado em administração pela Universidade Federal da Bahia e com mestrado em Michigan (EUA), Sampaio esteve à frente de movimentos importantes na história da companhia como a internacionalização e a consolidação no setor petroquímico. No ano passado, foi eleito para substituir o próprio Emilio na presidência do conselho de administração de ODB. Antes disso, passou nove anos como diretor de Kieppe.

A briga com Marcelo promete subir de tom nos próximos dias. Emilio colocou o outro filho, Maurício Odebrecht – formalmente anunciado como seu sucessor no mandato de Kieppe – no conselho de administração da ODB. Os irmãos tornaram-se rivais em meio aos desentendimentos familiares.

Para a vaga da presidência do conselho, que era ocupada por Sampaio desde junho de 2018, foi eleito José Mauro Carneiro da Cunha, executivo com longa carreira no BNDES e que também foi presidente executivo e do conselho da operadora de telefonia Oi. Após as mudanças, o colegiado fica com quatro participantes: João Nogueira Batista e Roberto Faldini completam o quadro.

Desde que obteve na Justiça uma progressão para o regime semi-aberto no cumprimento de pena, Marcelo vem pressionando a família para retornar à Kieppe e tentando influenciar pessoas com as quais têm alguma proximidade nas empresas.

Nesse cenário conturbado, a expectativa é que outros executivos deixem sua posição. Daniel Villar, por exemplo, deixou o comando da área de recursos humanos, comunicação e sustentabilidade.

O Valor apurou que o diretor financeiro Marco Rabello, diretamente envolvido na negociação com credores, deve permanecer.

Em sua batalha por tentar retomar a influência sobre a Odebrecht, Marcelo não poupou sequer o próprio pai de seus ataques e cruzadas investigativas, conforme fontes com conhecimento do assunto. Emílio, segundo o Valor apurou, tentou contato com o filho para acalmar a situação, mas sem sucesso. Desistiu e escolheu adotar uma postura de enfrentamento mais clara, inclusive por cobrança dos bancos credores.

A escolha de Sampaio vem justamente para conter Marcelo. A saída de Guidolin era um movimento esperado para depois da aprovação da recuperação judicial do grupo, que listou na Justiça um total de R$ 98 bilhões em compromissos, quando considerados R$ 33 bilhões em dívidas entre as empresas do grupo.

Durante os quase três anos em que atuou na holding, Guidolin tentou isolar a empresa da briga entre pai e filho, que se estabeleceu durante as negociações para o acordo de leniência do grupo com o Ministério Público Federal (MPF) e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ). O executivo, com isso, não tomou partido de nenhum dos lados e colocou foco na resolução de pendências de acordos internacionais e na negociação das dívidas. Ele continuará como conselheiro das controladas de ODB.

A percepção de Emilio é que será necessária uma figura que possa enfrentar Marcelo, no atual cenário de recrudecimento do conflito. Daí a decisão por antecipar a saída de Guidolin.

As divergências com Marcelo serão afetadas pelo próprio conteúdo do acordo em negociação com os bancos. Segundo fontes envolvidas com o assunto, Marcelo (assim como o próprio Emilio e outros ex-executivos e ex-acionistas) terá seus créditos listados na recuperação judicial, próximos de R$ 70 milhões, reduzidos a praticamente nada. Também há expectativa de que sejam cortados os pagamentos que o herdeiro recebe como uma espécie de indenização pelo acordo de colaboração premiada. Por fim, seu acesso ao prédio que reúne a sede da holding e das controladas será cancelado e ficará restrito a solicitações formais.

Procurado, Marcelo não quis comentar as mudanças, nem comentar a piora nas relações familiares.

A questão dos créditos com a família e a governança do grupo são pontos cruciais para os bancos fecharem um acordo. O assunto é tão relevante para os credores da negociação – Itaú, Bradesco , BNDES e Banco do Brasil – que no acordo estará prevista a existência de um supervisor para acompanhar os fluxos financeiros da empresa. Será o terceiro observador dentro da Odebrecht, uma vez que a companhia já é acompanhada pelo MP e pelo DoJ.

Sampaio já estava muito próximo da negociação com os credores e o assunto não será novidade em sua agenda. Depois que aprovar o plano de recuperação, ficará mais evidente o encolhimento do grupo. A ODB terá um período para gerir e vender os principais ativos: Braskem, Atvos, Ocyan e a participação na Santo Antônio Energia.

Exceto a fatia na usina hidrelétrica, as demais empresas citadas já foram dadas em garantia a credores após a crise financeira que atingiu o negócio e o setor com a Lava-Jato. Aos credores da holding caberá a sobra do que for obtido com a venda desses negócios após pagar as dívidas que cobrem.

O grupo tenta, na conversa com os bancos, reter 20% dessa sobra para dar fôlego aos negócios. A família quer revitalizar a construtora OEC. A empresa que já teve uma carteira de pedidos superior a US$ 30 bilhões, tem hoje menos de US$ 5 bilhões em obras contratas.




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